Economia Política

A Ilusão do Desenvolvimento

ARRIGHI, Giovanni. A Ilusão do Desenvolvimento.
Petrópolis. Editora Vozes, 1997. P. 207 – 252.

Ao propor uma reconceituação da semiperiferia,
Giovanni Arrighi pretende conceber uma nova forma de entendimento das relações
empreendidas pelos países e da estrutura formada por eles no cenário
internacional. Cabe citar, como resumo da obra, que o pensador acredita em uma
desigualdade fundamental e auto-reprodutora na distribuição da riqueza entre
Estados, como determinante das relações núcleo orgânico – periferia.

Arrighi supõe, sendo assim, a necessidade de um
questionamento acerca dos fundamentos que ratificavam, ao menos anteriormente,
a idéia da existência concomitante de um núcleo orgânico, de uma semiperiferia
e de uma periferia. Para o autor, devem ser relevadas, em primeiro lugar, duas
verdades: industrialização não é equivalente a desenvolvimento; e trocas
desiguais não são os únicos mecanismos pelos quais se mantém a polarização
núcleo orgânico – periferia. A relação à qual Arrighi se concentra é mais um
resultado de diversos fatores coexistentes, dentre os quais estão as
transferências multilaterais de mão-de-obra e de capital, sejam estas forçadas
ou voluntárias, bem como os processos de industrialização e
desindustrialização.

Concluindo esta análise, o autor considera
contraditória a existência de algumas ferramentas disponíveis para um país
explorado que, inserido na rede de trocas desiguais característico do sistema
capitalista, possam o auxiliar no enfraquecimento das relações de
complementaridade, armando-o em relação ao explorador, a fim de obter maior
riqueza, poder e bem-estar. Como exemplo, Arrighi coloca a ascensão da Coréia
do Sul e do Japão, países que notadamente preocuparam-se em exportar, no
período subseqüente ao final da II Guerra Mundial, produtos cuja fabricação
pressupõe mão-de-obra comparativamente mal paga. Ele considera ser necessário,
entretanto, não tomar tal comportamento econômico como padrão, dado o fato da
troca desigual assumir a realidade dúbia de conduzir tanto à polarização quanto
à despolarização.

Como fuga a um impasse teórico tão desordenado,
Arrighi propõe a idéia de que não são as combinações específicas de atividades
que determinam as relações núcleo orgânico – periferia; mas sim a realidade
sistêmica de disputa pelos benefícios da divisão mundial do trabalho,os quais
são, por sua vez, frutos da posição que os Estados têm em uma hierarquia de
riqueza – e não em redes de troca como se acreditava anteriormente. Dentro da
estrutura hierárquica de riqueza, inclusive, o autor identifica três
agrupamentos distintos – superior, inferior e intermediário – os quais
compartilham de dimensões desproporcionais dos benefícios colhidos na divisão
mundial do trabalho, seja quantitativamente seja qualificadamente.

Tais oportunidades de avanço econômico, de forma
mais específica, se baseiam em processos relacionais de exploração e de
exclusão – fatores distintos, porém complementares. Levando em consideração que
uma das características mais proeminentes da economia capitalista é a
recompensa desigual por esforços humanos iguais e oportunidades desiguais do
uso de recursos escassos, a reação em relação aos dois processos também é
diferenciada: as lutas contra a exploração são as que visam a criação de
divisões do trabalho tão autônomas quanto possível, ao passa que as lutas
contra a exclusão são as que ambicionam a possessão de um nicho
comparativamente seguro na mesma divisão do trabalho.

Ainda que não sejam ineficazes, a compreensão
destas formas de reação levam a conclusões antagônicas: é exatamente a sua
capacidade de travar com sucesso estas lutas que impedem aos países
semiperiféricos à queda à realidade periférica. No entanto, não são todos os
países que podem ser ou se tornar periféricos pois, como um jogo de soma zero,
tudo aquilo que um Estado pode realizar, será em mesma medida negado a outro.

Arrighi se junta à Drangel para fazer, então, uma
pesquisa de ratificação das idéias descritas, que compreende a análise do
Produto Nacional Bruto de um grupo de países durante o período de 1938 a 1983.
Ele identificou, ainda, as características de cunho político, como orientação
pró-sistêmica e anti-sistêmica, levadas a cabo por países de diferentes regiões
do globo e teorizou acerca da influencia que métodos econômicos coercitivos têm
para a efetividade do que chama de a ‘’ilusão do desenvolvimento’’.


Como citar e referenciar este artigo:
ANÔNIMO,. A Ilusão do Desenvolvimento. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/resumos/economia-politica/a-ilusao-do-desenvolvimento/ Acesso em: 29 mar. 2024