Economia Internacional

Resumo – Petróleo e poder: O envolvimento militar dos Estados Unidos no Golfo Pérsico – Igor Fuser.

FUSER, Igor. Petróleo e poder: O envolvimento militar dos Estados Unidos no Golfo Pérsico. São Paulo: Ed. Unesp: PROGRAMA SAN TIAGO DANTAS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS da UNESP, Unicamp e PUC-SP, 2009.

 

“O caso do petróleo brasileiro prende-se ao caso do petróleo em geral. Esse produto é o sangue da terra; é a alma da indústria moderna; é a eficiência do poder militar; é a soberania; é a dominação. Tê-lo é ter o Sésamo abridor de todas as portas. Não tê-lo é ser escravo. Daí a fúria moderna na luta pelo petróleo.”

(Monteiro Lobato, em O escândalo do petróleo e do ferro.).

 

Igor Fuser, como jornalista especializado em coberturas internacionais, fez uma apurada análise das atitudes estadunidenses em relação à dependência petrolífera, a partir de uma mescla entre conhecimento conceitual e análise histórica. Portanto, já no primeiro capítulo do livro, o autor divagou sobre as virtudes e os limites das escolas teóricas: o realismo e o equilíbrio de poder e a preocupação central nas questões militares; o liberalismo e a interdependência, principalmente no que diz respeito à obtenção energética e a ampliação das esferas de cooperação econômica; o ambientalismo, como explicação contemporânea da guerra por recursos; e, por fim, o marxismo, como corrente conciliadora dos debates sociais e econômicos. Como tese principal, Fuser apresenta a idéia de que a hegemonia norte-americana é garantida pela via da guerra, sendo que, dessa maneira as opções do país seriam realistas, assim como a dos dirigentes do Golfo Pérsico.

 

Depois dessa análise, o autor determina a importância do petróleo desde a Primeira Grande Guerra, como fator determinante da hierarquia de poder nas Relações Internacionais, pela observação da retrospectiva histórica. Sobretudo no caso dos Estados Unidos, cuja necessidade é do acesso ao petróleo barato para o controle do sistema. O poder advindo do petróleo, no entanto, não é assim recente: já era fator da posição imperial britânica desde o século XIX, o que gerou conflitos de dominação no período entre guerras.

 

Depois da Segunda Grande Guerra, baseado na política violenta de implantação dos conglomerados empresariais e do Plano Marshall, o EUA se consolida como potência controladora das reservas do Golfo Pérsico. Os competidores, como Japão e Alemanha estavam destruídos e os próprios países aliados, profundamente devastados. Foi o dinheiro do petróleo estadunidense que patrocinou, ainda que relativamente, a recuperação destes países e o surgimento dos Estados de bem-estar social. Até então a concepção de dominação das reservas era econômica. Durante a Guerra Fria, toma conotação dupla: para as transnacionais é função do interesse financeiro, para os Estados é estratégica.

 

Porém, os Estados Unidos são vistos como continuadores do imperialismo europeu, por não apoiarem os movimentos nacionalistas anticoloniais que precipitaram depois da I GG. Ou seja, mesmo no extenso período que demarcou a Guerra Fria, o principal choque dos EUA na região se dá com os governos nacionalistas árabes, e não com a rival União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

 

A conjuntura do período possuía dois elementos centrais: primeiramente, os conflitos acerca das reservas e dos lucros da extração se somavam com o aumento interno do uso do óleo combustível, e depois, os sinais iniciais de escassez de petróleo dentro do território próprio, obrigando os EUA a buscar petróleo fora. As técnicas extrativas eram desonestes e suporte militar foi constantemente aumentado, incluídos nesta categoria desde a construção de bases até ataques declarados. Tudo em prol de obter o maior controle possível da extração e manter a área fora da esfera de influência soviética.

 

O petróleo representa, nitidamente, um dos pilares de uma economia cada vez mais globalizada. Uma crise envolvendo o petróleo afetaria, assim como já aconteceu, acima de tudo, o “epicentro” do capitalismo contemporâneo: os próprios EUA. Mas o domínio sobre os poços é um empecilho constante: quanto mais o tempo passa mais as apropriações e estatizações tornam-se insuficientes. Além das iniciativas dos estadistas do Golfo Pérsico, como a criação da OPEP, para defender seus interesses e apropriar-se de uma parcela maior dos lucros.

 

A atualidade ainda reservou algumas surpresas, como os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e a ascensão de potências como a China e a Índia, que passam a entrar na competição petrolífera. Sobre as ameaças terroristas, em conjunto com a militarização crescente do país há a preocupação em manter o poder no Golfo. Nesse sentido, a invasão do Iraque seria uma maneira de conseguir acesso fácil às reservas. Já as nações “baleias” do novo contexto mundial, dois são os fenômenos que favorecem a ratificação de acordos mais vantajosos destas com os fornecedores do Oriente Médio: a imensa demanda tanto oriental e a inexistência de indisposições políticas entre os negociantes, ao contrário do que acontece com os Estados Unidos. Também facilitam os planos de ambos os governos (Índia e China) em implantar projetos navais dispendiosos, mas que ajudariam no escoamento das compras efetivadas.

 

Para resumir todos esses acontecimentos, Fuser parafraseia Michael Mann: “… em um mundo de estados-nações (…) a Era do Império já terminou.”. Mas a sensação é de que a “hiperpotência” ainda não percebeu essa realidade e continua com seus investimentos militares ideológicos para a continuidade do controle. Para o autor, a solução seria em desvendar os impasses históricos que determinam um Golfo Pérsico como área mais explosiva do planeta, onde se concentraram os dois conflitos maiores do pós – Guerra Fria (1990 – 1991 / 2003) e as maiores crises energéticas presenciadas pela humanidade.

 

Para tanto, é necessário um estudo minucioso quanto à importância estratégica do petróleo. Por ser a principal fonte de energia da economia moderna, o que provavelmente continuará acontecendo nas primeiras décadas do século XXI, o combustível é condicionante de disputas políticas e determina a hierarquia vigente no sistema internacional, ainda mais de acordo com as perspectivas caóticas que apontam ponto máximo de produção como realidade próxima.

 

Um dos trunfos, por assim dizer, do petróleo é servir para quase todas as necessidades imediatas, desde movimentar os meios de transporte até gerar energia elétrica, passando por uma imensa diversidade de subprodutos. Não é estranho, depois dessas informações, que represente 40% de toda a energia consumida no planeta. Aliás, Segundo a Agência internacional de Energia, continuará o combustível mais importante até 2030, sendo que a demanda crescerá 37%. O petróleo ocupa posição de primazia por diversos motivos, entre eles: ainda não há fonte capaz de substituí-lo com tamanha eficácia, o investimento inicial de descoberta e instalação pode ser alto, mas depois o gasto de produção é baixo relativamente às demais fontes e, também porque pode ser transportado com maior rapidez e com custo inferior. Ironicamente, também existem outras funções, como disse Yaves Lacoste, entre uma das utilidades do petróleo está a de fazer a guerra.

 

Fato é que no comércio mundial de petróleo as políticas dos Estados se misturam com os interesses privados. Desde Winston Churchill, que converteu os navios da Marinha Real Britânica na I GG, de carvão para petróleo, criando um vínculo entre esse e a estratégia bélica, que é impossível desligar o poder energético das outras esferas de preocupação social, tanto pública quanto privada. Passado o período entre guerras, a demanda crescia 7% ao ano, e era suprida pelos produtores do Golfo Pérsico, até que o declínio do imperialismo britânico possibilitou a ascensão dos nacionalismos, e tanto soviéticos quanto estadunidenses começaram a disputar influência na região. Já em 1980, a dependência norte-americana só aumentava então o presidente Jimmy Carter enunciou a doutrina que foi permanente até o governo George W. Bush: “qualquer tentativa de restringir o fluxo de petróleo pelo Golfo será repelida, inclusive com a força.”.

 

Ao contrário de outras fontes energéticas, o petróleo se distribui pela crosta terrestre de maneira desigual. O Oriente Médio concentra 67% das reservas e 37% da produção atual, sendo que a maior parcela desses dados é oriunda do Golfo Pérsico. Existem vários fatores que determinam tamanha importância, como: 1) capacidade de ampliar a produção em curto prazo; 2) a possibilidade de aumentar a produção de modo sustentável, e 3) o fato de consumirem uma pequena fatia do que produzem. Também é relevante a informação de que os custos de produção e de investimento no Oriente Médio são os menores do mundo.

 

Sobre a OPEP, uma organização fundada em 1960 cujo objetivo era coordenar as políticas de preço e volume de produção, dos países integrantes, Fuser apresenta a estatística de que suas reservas correspondem a 77% das existentes, sendo que em todas as nações é o Estado que controla as normas da extração e comercialização do petróleo. Em sua gênese, a OPEP apresentava duas metas contraditórias: alcançar o maior preço possível e a máxima participação no mercado. Na década de 1980 teve sua influência enfraquecida por duas causas: guerras travadas entre países membros (Iraque X Irã / Iraque X Kwait) e crescimento da produção dos países não-membros, no entanto a tendência, em razão dos fatores apresentados acima, é a OPEP retomar o controle da oferta.

 

Igor Fuser também lembra de posicionar-se a respeito da polêmica sobre o esgotamento das reservas, por tal assunto suscitar divergentes opiniões. As duas visões principais envolvidas em tal debate são: pessimistas, os quais acreditam que o pico da produção está próximo (2010) e a defasagem entre demanda e oferta se tornará insustentável, e os otimistas, defensores de que novas tecnologias levariam a novas reservas e maiores níveis de recuperação do petróleo já existente. É nesse grupo que se situa a AIG (Agência Internacional de Energia), organização que divulga a opinião mais aceita e considerada coerente no cenário internacional, apesar de que muitos dos cálculos pequem por falta de transparência.

 

Quando inicia a dissertação sobre a segurança energética e os interesses nacionais dos EUA, Fuser busca tenta vincular, a partir até mesmo de teorias mercantilistas, a economia e o poder nacional, tão prezado pela cultura e pelos políticos norte-americanos. Já há algum tempo, estes tentam avaliar os custos e benefícios da dependência econômica e a vulnerabilidade em relação às matérias-primas estratégicas importadas, mas é verdade que, no país, os atores domésticos têm forte influência, dificultando a adoção de políticas públicas.

 

O autor parte, nesse momento, para uma retrospectiva das políticas adotadas por cada governo instituído nos EUA desde o final da II Grande Guerra. Inicia com uma análise das relações até o choque do petróleo de 1973. Fala sobre a Doutrina Truman, a guerra fria e o desafio à hegemonia britânica, em seguida sobre a ousadia de Eisenhower e o primeiro desembarque da marinha no Oriente Médio, e sobre Nixon e a escalada armamentista. Dedica intensa relevância à doutrina elencada por Carter para a busca da securitização do petróleo e como este atuou frente às ameaças regionais. Descreve a guinada à direita da política norte-americana com a escalada intervencionista de Reagan, e posteriormente, com a guerra de legitimidade que se tornou a Guerra do Golfo. Por fim, o autor explica a estratégia da máxima extração dos dois últimos governantes, Clinton e Bush (filho), como tal atitude interferiu no sistema internacional, e quais seriam os obstáculos atuais, enfrentados pelos Estados Unidos da América, no Golfo Pérsico.

 

A projeção de força que o país impôs às nações do Golfo Pérsico apresenta, claramente, uma estratégia de crescimento, que culmina na agressividade utilizada no presente. A eliminação de inimigos incômodos, como o Iraque, e a tentativa de consolidação da hegemonia, provocam uma série de reações adversas e que comprometem o equilíbrio das relações internacionais. Segundo Igor Fuser o risco de que as resistências nacionalistas se acirrem, não é realidade tão distante. Foi sobre esse temor generalizado que o autor debruçou suas atenções.

Como citar e referenciar este artigo:
ANÔNIMO,. Resumo – Petróleo e poder: O envolvimento militar dos Estados Unidos no Golfo Pérsico – Igor Fuser.. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/resumos/economia-internacional/resumo-petroleo-e-poder-o-envolvimento-militar-dos-estados-unidos-no-golfo-persico-igor-fuser/ Acesso em: 25 abr. 2024