Senado

Segundo biógrafo de Getúlio, ‘sacrifício’ era ideia que já aparecia em anotações de 1930

Ricardo Westin






O pijama de Getúlio Vargas com a marca do tiro no peito e uma mancha de sangue

O jornalista Lira Neto começa o último livro da trilogia biográfica Getúlio (Companhia das Letras), que foi lançado neste mês, enumerando as muitas vezes, entre 1930 e 1954, que o presidente cogitou a mórbida possibilidade de matar-se:

— Ele queria ser lembrado por sucumbir em defesa da pátria, não por baixar a cabeça aos adversários.

Por que Getúlio Vargas preferiu se suicidar a renunciar?

Foi uma espécie de crônica de uma morte anunciada. Havia anos que Getúlio deixava em seu diário e em sua correspondência indícios de que jamais aceitaria ser deposto. Para ele, isso significaria ser marcado com o signo do vexame, da derrota, da desonra, do ridículo. No dia da chamada Revolução de 1930 [quando chegou ao poder pela primeira vez], ele escreveu que, se o movimento fracassasse, só seu sacrifício limparia aquele erro.

Em 1932, no dia seguinte ao movimento constitucionalista de São Paulo, ele redigiu um típico bilhete de suicida. Achando que seria deposto, disse que preferiria morrer como um soldado. Em 1945, ano em que foi deposto, escreveu duas cartas no mesmo tom. Ele levou a intenção a cabo, em 1954, ao ver-se acuado e sem alternativas. Getúlio não suportava a hipótese de sair do Catete preso. O suicídio foi um gesto que vinha sendo amadurecido, lentamente programado. Uma das últimas aparições públicas de Getúlio ocorreu no início de agosto de 1954, quando ele foi ao Grande Prêmio Brasil, no Jockey Club do Rio. Ele foi alvo de longas vaias. O suicídio provocou tal comoção que essas mesmas pessoas estariam chorando a morte dele semanas depois.

Getúlio Vargas foi mais “pai dos pobres” ou ditador?

A bibliografia sobre Getúlio é vastíssima. Ele foi um dos sujeitos sobre quem mais se escreveu na história do Brasil. Boa parte dos livros, porém, padece de um pecado grave. Ou são ingênuos, devocionais, quase hagiográficos, como se fossem a biografia de um santo, ou são tentativas de desconstrução radical. Nada disso é produtivo. Getúlio é um personagem complexo, contraditório e cheio de ambivalências. Isso é o que o torna tão fascinante. Por um lado, ele protagonizou uma das vitórias eleitorais mais consagradoras do Brasil. Ele instituiu uma série de direitos sociais e modernizou o país, acabando com o estágio agrário pré-capitalista e iniciando a industrialização. Por outro lado, ele provocou muito mal nos oito anos da ditadura do Estado Novo. Foi um governo que calou a imprensa, perseguiu adversários e torturou. Não podemos entendê-lo como um personagem de novela, que é bom ou mau.

Não há cidade que não tenha uma rua ou praça com o nome de Getúlio Vargas. Por quê?

Muitos desses logradouros foram batizados na ditadura do Estado Novo. O culto à personalidade de Getúlio era um dos maiores mecanismos de propaganda do regime. Publicavam-se livros e cartilhas escolares sobre ele, afixavam-se imensas imagens dele em praça pública, faziam-se eventos cívicos espetaculosos. Isso ajudou a cristalizar a mitologia em torno de Getúlio.

Como foi o Getúlio Vargas senador?

Getúlio foi um senador muito pouco assíduo. O que mais chamou a atenção em sua passagem pelo Senado foi um atentado que quase acabou em tragédia. Getúlio estava em seu assento no Plenário quando um sujeito se aproximou e atirou uma pedra de calçamento na direção dele. A intenção era matá-lo. Getúlio escapou. Mais tarde, atestou-se que aquele sujeito era amalucado. Depois desse episódio, Getúlio sumiu de vez do Senado, não quis mais se expor, desapareceu.

Agência Senado

(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Senado

Como citar e referenciar este artigo:
NOTÍCIAS,. Segundo biógrafo de Getúlio, ‘sacrifício’ era ideia que já aparecia em anotações de 1930. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2014. Disponível em: https://investidura.com.br/noticias/senado/segundo-biografo-de-getulio-sacrificio-era-ideia-que-ja-aparecia-em-anotacoes-de-1930/ Acesso em: 28 mar. 2024