MPF

Chacina de Unaí: segundo mandante também é condenado a 100 anos de prisão

O ex-prefeito de Unaí, Antério Mânica, foi condenado a 100 anos de prisão pelo assassinato dos servidores do Ministério do Trabalho – três fiscais e um motorista – no dia 28 de janeiro de 2004.

O tribunal do júri federal em Belo Horizonte, em sessão de julgamento que durou dois dias, condenou o ex-prefeito pelo crime de quádruplo homicídio, triplamente qualificado por motivo torpe, mediante paga e sem possibilidade de defesa das vítimas.

Ao ler a sentença, o juiz federal Murilo Fernandes de Almeida disse que o acusado "merece uma maior censura pela condição social que dispunha no município de Unaí, condição essa que deveria levá-lo a ter maior controle sobre os seus instintos".

Como já cumpriu 26 dias em prisão, o réu ainda terá de cumprir 99 anos, 11 meses e 4 dias. Assim como ocorreu na semana passada, no julgamento de Norberto Mânica, irmão do ex-prefeito, e de José Alberto de Castro, o ex-prefeito terá o direito de recorrer em liberdade. Norberto Mânica foi condenado a 98 anos seis meses e 24 dias e apontado como um dos mandantes do crime, juntamente com o José Alberto de Castro que intermediou os crimes, e teve pena fixada em 96 anos, cinco meses e 22 dias.

Agora falta apenas o julgamento do empresário Hugo Alves Pimenta, que firmou delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), e será julgado a partir de 11 de novembro.

Em seu depoimento no julgamento, Antério Mânica negou qualquer participação e disse não entender porque foi denunciado, acusando o MPF de ter cometido um "equívoco".

Provas – Durante o processo, o MPF demonstrou para o júri que havia provas do envolvimento do ex-prefeito. No dia anterior ao crime, um veículo Marea azul, igual ao da esposa Antério Mânica, foi visto durante encontro entre os executores e os intermediários em um posto de abastecimento. O fato foi confirmado pelo réu Willian Gomes, motorista da quadrilha e condenado a 56 anos de prisão pela sua participação nos assassinatos. Em depoimento prestado à Polícia Federal, ele confirmou a presença do veículo e disse ainda que dentro dele se encontrava um homem muito "bravo", que gritava que era para "matar todo mundo".

Além disso, foram identificadas ligações realizadas da fazenda do réu para a cidade de Formosa (GO), onde morava um dos pistoleiros.

A defesa de Antério Mânica tentou demonstrar que existiam vários carros do mesmo modelo e cor na cidade, e que o automóvel que estava no encontro poderia pertencer a qualquer pessoa. O MPF, no entanto, desmontou essa tese ao apresentar documentos do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran), confirmando que o único carro com aquelas características, na cidade, pertencia à esposa do acusado.

Outra prova importante foi uma testemunha do MPF que disse ter visto, no dia anterior ao crime, na Huma Cereais, de propriedade de Hugo Pimenta, uma reunião relâmpago entre os envolvidos – entre eles Antério Mânica – e que todos estavam satisfeitos. A testemunha descreveu minuciosamente os fatos, inclusive o veículo em que cada um deles estava.

O MPF também apresentou como prova a posição de liderança que Antério Mânica tinha sobre os irmãos e as investidas que já havia feito sobre as fiscalizações dos auditores em sua fazenda. Ele chegou a ligar para a delegacia do trabalho na cidade para reclamar que os fiscais estavam "incomodando" e ameaçavam seus interesse políticos na região.

Diligências. O MPF realizou diligências na cidade de Unaí e, junto com a Polícia Federal, ouviu diversas testemunhas. O principal resultado foi a apuração de que a esposa do acusado havia comentado que seu marido, depois da Chacina, a proibiu de andar no veículo Marea, de colocar nele adesivo da sua campanha para prefeito, e ainda deixou o carro tampado com uma lona preta.

O procurador da República Hebert Reis Mesquita, que participou do julgamento, explicou que em crimes de pistolagem (onde há os mandantes, intermediários e executores), é mais fácil comprovar a participação de executores que estão na base do que a de intermediários e mandantes. O MPF e a polícia conseguiram reunir um conjunto de provas que levaram os jurados a concluir que o Antério Mânica era um dos mandantes do crime. "Nos debates, trabalhamos a força desses elementos isolados que se somaram aos rastro deixados pelos acusados, e comprovam a participação dele no crime", afirma o procurador.

Após o resultado do julgamento, a procuradora da República Mirian Moreira Lima, que atua no caso desde 2004 e foi uma das autoras da denúncia, disse que sempre acreditou que Antério Mânica seria condenado. "Embora a imprensa, familiares e a população duvidassem deste resultado, nestes 11 anos eu nunca duvidei. Tinha a convicção plena da responsabilidade dele desde o início."

No tribunal do júri, o MPF foi representado por três procuradores da República: Mirian Moreira Lima, Bruno Magalhães e Hebert Reis Mesquita. O procurador de Justiça aposentado Francisco Patente atuou como assistente da acusação.

 

Fonte: MPF

Como citar e referenciar este artigo:
NOTÍCIAS,. Chacina de Unaí: segundo mandante também é condenado a 100 anos de prisão. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2015. Disponível em: https://investidura.com.br/noticias/mpf/chacina-de-unai-segundo-mandante-tambem-e-condenado-a-100-anos-de-prisao/ Acesso em: 28 mar. 2024