Ética

Resumo: Libertação Animal – Peter Singer

Resumo: Libertação Animal – Peter Singer*

      

 

 

Primeiramente, se deve entender  o contexto em que Singer escreveu o livro. Era o ano de 1975, uma época em que não se falava, ou se falava muito pouco, sobre respeito aos animais. Dessa forma, o livro foi um começo, uma primeira tentativa, um primeiro grande passo para trazer à tona o sofrimento animal. Para que o livro não “assustasse” demais as pessoas, para que pudesse ser levado a sério, ou pelo menos, ser “menos ridicularizado”, Singer procurou apontar as formas mais absurdas, óbvias e desnecessárias de sofrimento animal. Mesmo assim, o impacto e a inovação das idéias trazidas no livro é único na história da bioética, pelo menos no que concerne ao respeito a seres não-humanos.

 

            Por isso que ele destaca e trabalha mais com a questão das experimentações e do agronegócio, e do SOFRIMENTO que isso causa, discutindo menos a questão da MORTE dos animais. Ele explica essa escolha, dizendo, que “pag.21” Ainda, no prefácio explica o porque da escolha de dois tipos apenas de crueldade animal em detrimento de muitas outras. O objetivo do material factual não é servir de relatório exaustivo do modo como tratamos os animais. Apenas indicam as implicações da concepção filosófica mais abstrata do especismo. As outras formas de crueldade aos animais não são menos cruéis ou rotineiras, mas os exemplos cruciais da experimentação e da produção de alimentos são suficientes para os objetivos pretendidos. Essas formas de crueldade são as que provocam mais sofrimento, a um número maior de animais e se forem abolidas, a extinção de outras práticas especistas não tardará a acontecer.

 

Isso não quer dizer que ele concorde que um animal seja, de fato, um meio aos fins humanos mas que, não deva sentir dor: a célebre frase de muitos carnívoros: “se o porco morreu de forma indolor e se não sofreu durante a vida, não acho errado matá-lo e come-lo”. Singer se opõe severamente a essa idéia, com certeza. Porém, talvez por uma estratégia que, ao meu ver, foi muito bem escolhida, ele abordou questões mais fáceis de se compreender ou de se aceitar.

 

            Por isso ele foi criticado, e muito, por outros defensores dos animais, por ser pouco “radical” na questão, ou por ter sido menos explícito, neste e em outros livros, sobre algumas questões também relevantes. Mas, deve se analisar o contexto em que o livro foi escrito: ele nunca pretendeu esgotar o assunto, ou determinar o caminho da questão do tratamento que damos aos animais. Ele abriu portas. Não foi o primeiro que levantou a idéia da libertação animal, mas foi o primeiro que conseguiu leva-la ao grande público. Esse é o grande mérito de Libertação Animal de Peter Singer.

           

            Por fim, ele acaba discutindo, de forma sucinta, o ato de matar animais.

 

 

Do livro

 

“Este livro trata da tirania de animais humanos sobre animais não-humanos”, e ainda “de como devemos tratar esses animais”. O autor  acredita ser errdao inflingir sofrimento desnecessário a outro ser, ainda que ele não seja um membro de nossa própria espécie; pensa que os animais são cruel e impiedosamente explorados por seres humanos.

 

O principio básico sobre qual todo o livro se constrói é o Princípio moral básico da igual consideração de interesses, entre outros. Ele apela para princípios morais básicos que todos aceitamos, e que estes sejam aplicados de acordo com a razão, não pela emoção.

 

 

Todo juízo moral requer a universalizabilidade do principio que o orienta. Se você defende um juízo moral, deve defender em qualquer situação. Então, defender a tirania de uma forma de vida sobre as outras, em nome da superioridade física ou intelectual, implica em sustentar o mesmo juízo em qualquer caso e em todas as circunstancias. Afirmar isso significaria que não existiriam mais crimes, pois todas as condutas que reprovamos acontecem como manifestação da superioridade física ou intelectual (crimes sexuais, estelionatos, roubos…).

 

            -> a luta em defesa dos animais é apenas a exigência de universalidade do principio ético, sua generalidade e sua aplicabilidade.

 

>> Se adotamos um determinado principio ético para orientar ações e decisões nas quais somos diretamente beneficiados, o mesmo principio deve orientar nossas ações e decisões quando os beneficiados ou prejudicados são os outros.

 

A história humana é uma repetida negação em admitir a igualdade em relação ao outro e, por isso, não reconhecer a divida de respeito com esse outro.

 

.:. Só deve aquele que pode reconhecer o que é devido!

DEVEDOR        >>     OBRIGAÇAO     >>          CREDOR

Racional

 

                                    Requer razão (só deve quem tem razão: por isso nós devemos e cachorros ou bebês não devem).

 

A teoria de singer é forte porque o núcleo de seu conceito de ética se fundamenta na exigência de coerência no emprego de um principio reiterado pela tradição liberal ocidental.

 

            Utilitarismo: quando nossas ações afetam interesses de alguns seres, devemos tomar decisões coerentes aos princípios morais. Eleva os seres sensíveis de espécies não humanas ao mesmo padrão de consideração que pretendemos seja respeitado quando se trata de abordar o sofrimento de seres da nossa própria espécie, dotados de sensibilidade, mas incapazes de razão (Alzheimer).

 

            Todos os seres que possuem interesses devem ser respeitados, e para com eles estamos obrigados, do ponto de vista moral, a dispensar consideração. Para a ética utilitarista a característica que distingue os seres que têm interesses dos que não os têm é a capacidade de sofrimento.

 

            Para ter interesses, em sentido estrito e não metafórico, um ser precisa ser capaz de sofrer ou de sentir prazer. Se um ser não é capaz de sofrer ou de sentir prazer, nada há de ser levado em conta.

 

Talvez a diferença entre Singer e outros utilitaristas (não todos) seja que ele coloca no sujeito e não em uma lei positiva o dever de expansão do principio de igualdade aos animais por uma questão de coerência. Ele faz isso porque, primeiro se a lei é coercitiva (e a lei positiva o é), é obrigatório que a siga – onde não há opção não há que se falar em ética. Meios institucionalizados para a defesa dos animais são úteis, mas são as nossas atitudes de consumo que afetam os animais mais diretamente – e isso não passa somente pela aprovação de leis. -> “vegetarianismo como boicote”.

 

O *Pcp da coerência ajuda a explica o que pretende Singer: muitos humanos destituídos de razão ou linguagem recebem tratamento justo. Devemos então considerar igualmente os interesses de outros seres destituídos de tais habilidades. Isso porque um mesmo pcp moral deve atender a quaisquer seres em seus interesses semelhantes.

 

 

 

Alerta que um movimento de libertação exige a expansão de nossos horizontes morais. Práticas anteriormente consideradas naturais e inevitáveis passam a ser vistas como resultado de um preconceito injustificável. A cultura e a tradição de exploração animal precisa ser revista, tal como a cultura racista ou sexista foi. Isso porque nossas atitudes atuais para com os animais baseiam-se em uma longa história de preconceito e discriminação arbitrária e também o desejo egoísta de preservar os privilégios do grupo explorador. O preconceito em relação aos animais não é menos objetável que o preconceito racial ou sexual, e comete, inclusive, os mesmos equívocos morais.

 

Dessa forma, a principal barreira que o movimento de Libertação animal enfrenta é o Hábito: alimentar, de pensamento, de linguagem.

 

Termina o prefácio dizendo: “Deixando de criar e matar animais para a alimentação, poderemos dispor de tal quantidade de comida para os seres humanos que, apropriadamente distribuída, eliminaria a fome e a desnutrição em nosso planeta. A Libertação Animal também e a Libertação Humana”.

 

1. Todos os animais são iguais – a necessidade de estender o princípio da igualdade a animais não-humanos.

 

Ao trabalhar a idéia da extensão do princípio básico da igualdade a animais não-humanos, não podemos ouvidar que há diferenças importantes entre seres humanos e outros animais e tais diferenças devem dar origem a outras tantas nos direitos de cada um. Fazendo um paralelo com o movimento de libertação da mulher, enquanto muitas mulheres exigiam o direito da mulher de fazer um aborto, o mesmo não pode ser exigido aos homens. Da mesma forma, não há sentido em se exigir direito ao voto para cachorros.

 

            Nessa hora, devemos ter em mente o princípio da isonomia: não devemos tratar os dois grupos exatamente da mesma maneira. O que devemos fazer ou não depende da natureza dos membros destes grupos. A preocupação pelo bem-estar de crianças em idade de alfabetização exige que as ensinemos a ler; a preocupação pelo bem-estar de porcos famintos exige que os alimentássemos. Não precisamos ensinar porcos a ler! Assim, o pcp da igualdade requer igual consideração dos interesses, de acordo com as necessidades de cada um.

 

            Temos de admitir que simplesmente não é verdade que todos os seres humanos são iguais. Isso não obsta a consideramos todos os seres humanos iguais, a critérios de igual consideração de seus interesses. Em suma, se a exigência de igualdade tivesses de se basear na igualdade efetiva, teríamos de aboli-la.

 

            O sexo ou a raça de uma pessoa não serve como orientação para avaliar sua capacidades ou habilidades. E mais importante do que isso, a defesa da igualdade não depende de inteligência, capacidade moral força física etc. A igualdade é uma idéia moral, não é uma afirmação de um fato. Dessa forma, o sexo, a raça, a inteligência o número de patas ou a viscosidade da pele não é importante. Não se pode usar critérios biológicos para se estabelecer tratamentos morais!

 

            Sobre isso,Thomas Jefferson disse que “o grau de seu talento, seja qual for, não se constitui na medida de seus direitos. O fato de Isaac Newton ter sido superior a outros indivíduos, em termos de inteligência, não o tornou senhor das propriedades, nem das pessoas delas.”

 

A Igualdade não é uma descrição da igualdade factual entre indivíduos, mas sim uma prescrição do modo como devemos trata-los. Jeremy Benhtam, fundador da escola reformista utilitarista de filosofia moral, conseguiu simplificar a idéia da igualdade moral través da fórmula: cada um conta como um e ninguém como mais de um” – os interesses de cada ser afetado por uma ação devem ser levados em conta, e receber o mesmo peso que os interesses semelhantes de qualquer outro ser.

 

            Ao negarmos isso aos animais, estamos sendo especistas. Especismo é o preconceito ou a atitude tendenciosa de alguém a favor dos interesses de membros de sua própria espécie e contra os de outras.

 

            Para alguns pode parecer difícil admitir que o princípio da igual consideração de interesses aplica-se aos membros de outras espécies da mesma forma que aos da nossa. Mas a verdade é que, se nos opomos à discriminação por raça ou sexo, estamos em terrenos pouco firme se negarmos igual consideração a não-humanos. Um especista comete o mesmo erro (absurdo) moral que um racista. O padrão é o mesmo.

 

            “Talvez chegue o dia em que o restante da criação animal venha a adquirir os direitos que jamais poderiam ter-lhe sido negados, a não ser pela mão da tirania. Os franceses já descobriram que o escuro da pele não é razão para que um ser humano seja irremediavelmente abandonado aos caprichos de um torturador. Ë possível que um dia se reconheça que o número de pernas, a vilosidade da pele ou a terminação do osso sacro são razões igualmente insuficientes para abandonar um ser senciente ao mesmo destino. O que mais deveria traçar a linha intransponível? A faculdade da razão, ou talvez a capacidade da linguagem? Mas um cavalo ou um cão adulto são incomparavelmente mais racionais e comunicativos do que um bebê de um dia, de uma seman, ou até mesmo de um mês. Supondo, porém, que as coisas não fossem assim, que importância teria tal fato? A questão não é ‘Eles são capazes de raciocinar?’, nem ‘São capazes de falar’, mas sim: ‘Eles são capazes de sofrer?’”

 

            Nessa passagem, Bentham aponta a capacidade de sofrer como a característica vital que confere a um ser o direito a igual consideração. A capacidade de sofrer não é um critério ou uma marca para se representar alguém. É um pré-requisito colocado antes mesmo da idéia de interesse. A capacidade de sofrer e de sentir prazer é um pré-requisito, necessário e suficiente para que possamos assegurar que um ser possui interesses – no mínimo, o interesse de não sofrer.

 

            Embora Benhtam fale de “direitos”, o argumento trata não de “direito”no sentido jurídico, mas significando igualdade.E Singer não discute a questão dos direitos dos animais. Nem entre nesse mérito, especialmente por não haver necessidade. Segundo ele, não é porque alguém tem direitos que deve ser respeitado, mas sim porque tem interesses, e é cada interesse (e não cada direito) que conta como um que deve ser observado, nunca em detrimento de outro interesse.

 

            Um animal não precisa ter direito à vida, no sentido jurídico de sujeito de direito para que sejamos proibidos de mata-lo ao nosso bem entender. Ele só precisa ter interesse em não morrer. Como que eu sei que ele tem esse interesse? Pelo seu comportamento frente à possibilidade de morrer.

 

            Se um ser sofre, não pode haver qualquer justificativa moral para deixarmos de levar em conta esse sofrimento. O limite da senciência (capacidade de forfre e/ou experimentar prazer), segundo Singer, é a única fronteira defensável de consideração dos interesses alheios.

 

            Agora chegamos a uma questão crucial: os animais sofrem?

 

            Muitos especistas alegam que nunca seremos culpados por negligenciar os interesses de outros animais e a razão muito simples: eles não têm interesses, pois não são capazes de sofrem. Essa visão foi proposta por Descartes no séc XVII.

 

            Singer afirma que a dor é um estado de consciência, um “evento moral” que, como tal, não pode ser observado. Podemos tão-somente inferir que outros a estejam sentindo a partir da observação de vários sinais externos. E quase todos os sinais externos comportamentais que nos levam a inferir a existência de dor em outros seres humanos podem se observados em outras espécies. Dessa forma, se é justificável admitir que outros seres humanos sentem dor como nós, sem qualquer prova definitiva disso, podemos negar essa equivalência aos animais?

 

            Além disso, sabemos que esses animais possuem sistemas nervosos muito semelhantes aos nossos, que respondem fisiologicamente como os nossos, quando se encontram em circunstâncias em que sentiríamos dor. Se os animais não sentissem dor, sofrimento, medo, angústia, não haveria razão para suas atitudes serem iguais (ou no mínimo extremamente similares) às nossas frente aos eventos que nos causam dor, sofrimento, medo, angústia.

 

            Não é preciso ser um especialista em biologia ou em fisiologia para compreender que não é razoável supor que sistemas nervosos fisiologicamente idênticos, tendo uma origem comum, uma função evolucionária comum, que se comportam da mesma forma em situações análogas, operem de maneira inteiramente diferente no nível das sensações subjetivas. Dessa forma, é incoerente afirmar, do ponto de vista biológico, evolucionário e fisiológico, que os animais não sentem dor, sofrimento, angústia, medo, terror.

 

A questão da linguagem

 

            Descartes afirmava que os animais não sentiam dor, ou que deveriam não sentir dor, porque são incapazes de falar. Não se poderia atribuir, de modo significativo, estados de consciência a seres que não possuem linguagem. Muito fácil rechaçar essa teoria, visto que a linguagem pode ser necessária para o pensamento abstrato, mas estados como a dor e o medo são mais primitivos, nada tendo a ver com a linguagem. A capacidade de utilizar a linguagem, como Bentham observou há muito tempo, não é relevante para a questão de como um ser deve ser tratado.

 

            Além disso, quando se trata de expressar sensações e emoções, a linguagem é menos importante do que modos não lingüísticos de comumicação. Bebês humanos e crianças pequenas não utilizam linguagem, mas negaríamos que sentem podem sofrer?

 

 

Conclusão: animais sentem dor. Agora, quais as conseqüências práticas que se seguem a essa conclusão?

 

            Outras diferenças entre humanos e animais dão origem a outras complicações. Seres humanos adultos possuem capacidades que, em certas circunstâncias, os levam a sofrer mais do que sofreriam animais, nas mesmas circunstâncias. Se, por exemplo, fosse preciso realizar experimentos extremamente dolorosos em adultos humanos raptados, aleatoriamente, de parques públicos, os adultos que passeiam em parques públicos passariam a ter medo de ser raptados. Isso traria um sofrimento adicional à dor da experiência. O mesmo experimento realizado em outros animais causaria mesmo sofrimento, uma vez que eles não sofreriam com o medo de ser raptados. Há uma razão, não especista, em preferir utilizar em tais experimentos animais a adultos.

 

Mas da mesma forma, poderíamos utilizar, em tais experimentos, bebês humanos ou seres humanos senis ou retardados, já que também estes não sofreram com o medo de ser raptados. No que diz respeito a esse argumento, animais, bebes e humanos senis ou retardados estão na mesma categoria. Então, se quisermos utilizar tal argumento para realizar experimentos em animais, temos de admitir que tais experiências sejam feitas aos bebes senis e retardados. Porém, se fizéssemos uma distinção entre os animais e estes seres humanos, em que base poderíamos faze-la,, a não ser uma descarada e moralmente indefensável preferência por membros de nossa espécie?

 

Foi por tais argumentos que Singer foi bastante mal interpretado e retaliado. Com isso, Singer não quer dizer que, ao invés de utilizarmos animais em experimentos, devemos passar a utilizar seres humanos retardados. Singer não tenta fundamentar uma eugenia. Ele não rebaixa retardados e senis à categoria dos animais, mas eleva os animais à essa categoria (ou até acima dela). O que ele sugere é trazer os animais para dentro da esfera das nossas preocupações morais e cessar de tratar suas vidas como descartáveis, utilizando-as para qualquer propósito trivial. O fato de um ser pertencer a nossa espécie não é, em si, suficiente para fazer com que seja sempre errado mata-lo.

 

Há algumas características de certos seres que tornam suas vidas mais valiosas do que de outros. Mas é importante salientar que essas características não se limitam à espécie – não é um maior grau de autoconsciência que determina o direito a vida de alguém.

 

 

A diferença entre infligir dor e tirar a vida

 

 

Se tivéssemos de escolher entre salvar a vida de um ser humano normal e a de um deficiente mental, provavelmente optaríamos por salvar a vida do ser humano normal; mas, se tivéssemos que escolher entre acabar com a dor de um ser humano normal e de um deficiente mental, – supondo que ambos tivessem sofrido ferimentos dolorosos, mas superficiais, e dispuséssemos de apenas uma dose de analgésico – não é tão claro a quem deveríamos escolher. O mal da dor, em si mesmo, não é afetado pelas outras características do ser que sente a dor; o valor da vida é afetado por essas outras características. Em geral, não necessitamos dar uma resposta precisa à questão de quando é errado matar um animal.  Desde que lembremos que devemos proporcionar o mesmo respeito à vida dos animais que conferimos à vida dos seres humanos com nível mental semelhante: ou seja, se, naquela situação análoga, estaríamos dispostos a tirar a vida do ser humano com nível mental semelhante ao invés de tirar a vida do animal.

 

5. O domínio do homem… Uma breve história do especismo

 

Especismo é, antes de mais nada, uma manifestação da ideologia de nossa espécie, isto é, como as atitudes que nós, enquanto animais dominantes, temos em relação a outros animais. É uma atitude que está tão profundamente arraigada em nosso modo de pensar que a tomamos como verdade inquestionável, e um sério e consistente desafio a ela corre o risco de cair no ridículo.

 

A grande questão  a ser aqui levanta é: “por que toleramos crueldades infligidas a seres de outras espécies que nos indignariam caso fossem infligidas a membros de nossa própria espécie?”

 

            Passamos agora a analisar como essa verdade surgiu e a partir de quais idéias religiosas, morais e metafísicas tornou-se “inquestionável”, mascarando os simples interesses dos homens quanto ao modo de lidar com os animais.

 

            As atitudes ocidentais para com os animais têm raízes em duas tradições: judaísmo e antiguidade grega, que confluem no cristianismo.

 

Época pré-cristã

 

            A bíblia afirma que Deus deu ao homem o domínio sobre todas as coisas viventes. Esse domínio seria mais uma guarda, pois no Éden não poderia haver morte, sendo um lugar de perfeita paz. Assim, no estado original de inocência, éramos vegetarianos. Após a queda do homem, matar animais passou a ser claramente permitido.

 

– No livro gênesis 1:29 sugere-se que, no principio, os seres humanos vivam de ervas e frutas das arvores.O Éden tem sido, muitas vezes retratado como um lugar de perfeita paz, onde nenhum tipo de morte teria vez.

 

– Após a queda do homem, matar animais passou a ser claramente permitido.

 

– No estado original de inocência, éramos vegetarianos e alimentávamo-nos somente de ervas verdes, mas, depois da queda, tivemos permissão para adicionar animais à nossa alimentação.

           

            – A noção de domínio presente no gênesis, que os homens teriam sobre os animais seria mais uma “guarda”, em que seriamos responsáveis perante Deus pelo cuidado e bem-estar daqueles que são colocados sob nosso domínio.

 

Na Antiguidade grega, havia duas tendências conflitantes: a de Pitágoras, vegetariano, que tratava os animais com respeito; e Aristóteles, que pensava que alguns homens são escravos por natureza e a escravidão, por conseguinte, era correta e vantajosa para eles. Aristóteles afirma ainda que animais existem para servir aos interesses dos seres humanos, muito embora não estabeleça um abismo entre os humanos e o restante do mundo animal. Ele ainda reconhece que escravos e animais sofrem e sentem dor – não nega que o homem é um animal (racional) – mas são seres inferiores ao homem racional. O critério aristotélico-cartesiano estabelecido pela filosofia moral tradicional para assegurar a igualdade entre os homens: razão e linguagem.

 

            Para Aristóteles, ética não é uma ciências que investiga princípios para fundas a busca do próprio bem, mas a busca de princípios para funda a igualdade ou justiça, e, pois, o bem do outro. (não causar danos a ngm por nossas ações).

 

Quanto ao pensamento grego, a concepção que se tornou parte da tradição ocidental posterior foi a de Aristóteles., que defendia que os animais existem para servir aos interesses dos homens, muito embora admita que o homem é um animal (racional). Aristóteles também defendia que alguns homens são escravos por natureza e que isso era correto e vantajoso a eles. Escravos e animais eram todos instrumentos vivos para os homens.

 

Pensamento cristão

 

            Absorveu as idéias judaicas e gregas no tocante aos animais. O Império Romano surgiu e cresceu graças a força e à conquista, não dando margem a que se acalentassem sentimentos de simpatia pelos fracos. Os jogos, extremamente populares, atestavam a passividade com que homens e mulheres viam seres humanos e animais sofrerem e padecerem aos montes frente aos seus olhos, transformados em peças de divertimento.

 

            Nesse contexto surge o cristianismo, que trouxe ao mundo romano a idéia da singularidade e sacralidade da espécie humana (e apenas dela), que herdou da tradição judaica. Enquanto causou uma enorme expansão da esfera moral limitada dos romanos, serviu para confirmar e acentuar a posição subalterna dos não humanos.

 

            Agostinho preconizava de que os animais realmente eram seres brutos, justificando tal posição com exemplos do tratamento que Jesus deu a uma vara de porcos, certa vez.

 

            O posicionamento que se destacou na doutrina cristão foi o de São Tomás de Aquino, maior representante da filosofia romana católica de seu tempo. Segundo ele, a obrigação cristã de matar não se aplica a outras criaturas, porque não há pecado em usar algo para o fim a que se destina. Homens usam animais para alimentar-se e isso não pode ser feito a não ser que esses sejam privados da vida, sendo, portanto, legal tirar a vida de animais. Vai além, discordando de que a crueldade contra animais seja errada em si. Pecados são cometidos apenas contra Deus, contra si próprio e contra o semelhante, não havendo uma categoria de pecados contra seres irracionais.

 

            Ainda, Aquino diz ser errado ter compaixão para com os animais, pois a caridade não abrange as criaturas irracionais, pois elas são incompetentes para possuir o bem, não possuem sentimentos de companheirismo e porque a caridade baseia-se no companheirismo da felicidade eterna, que tais criaturas não conseguem atingir.

 

            E não é tudo! São Tomás simplesmente negava que animais outros que não seres humanos pudessem sofrer. “Não importa como o homem se comporta com relação aos animais, porque Deus sujeitou todas as coisas ao poder do homem […] Deus não pede ao homem para prestar contas do que faz com os bois ou com outros animais”.

 

 

            – Agora, de onde que ele tirou que todas as coisas estão sujeitas ao poder do homem, ninguém pode saber…

 

            Nadando por essa corrente, no século XIX, o Papa Pio IX não permitiu que a Sociedade para a Prevenção da Crueldade com Animais se estabelecesse em Roma, com o argumento de que isso implicaria que os seres humanos teriam deveres para com os animais.

 

 

Foi necessário fazer esse (talvez um pouco enfadonho) resgate historio porque é esse o pensamento católico construído sobre o uso que podemos fazer dos animais, e que é, praticamente, o mesmo preponderante em nosso tempo, arraigado culturalmente nas mentes de nossos ancestrais e transmitidos, com pouquíssimas alterações à nossa geração. São esses argumentos absurdos de Aquino e da Igreja Católica que usamos para justificar, ainda hoje, o tratamento que dispensamos aos animais.

 

Com o período da Renascença veio o humanismo renascentista, que era, afinal, humanista, insistindo no valor e na dignidade dos seres humanos. “O homem é a medida de todas as coisas” – a ostentação da dignidade, potencial e superioridade da natureza humana contrastou ainda mais a natureza limitada dos “animais inferiores”. Se a Renascença marca, sob determinados aspectos, o início do pensamento moderno, o modo de pensar anterior, no tocante aos animais, continua a vigorar, apesar de dissidentes importantes como Leonardo da Vinci (que era vegetariano e condenava toda e qualquer crueldade contra animais).

 

Quando se achava que a situação para os animais não poderia piorar, surge Descartes, no século XVII. Sob a influencia da nova e estimulantes ciência da mecânica, Descartes sustentou que tudo que era matéria seria governado por princípios mecanicistas, a exemplo de um relógio. Obviamente ele não poderia afirmar que os seres humanos eram máquinas, ou seria gentilmente encaminhado à fogueira. Para evitar esse destino, afirmou que há dois tipos de coisas no universo: coisas de espírito e coisas de matéria. Anjos são coisas de espírito, homens são coisas de espírito e de matéria, e animais, por não possuírem, segundo ele, consciência, seriam coisas de matéria e, portanto, máquinas.

 

Uma vez sendo máquinas, animais não sentem dor e são incapazes de sofrer. Essa teoria foi extremamente conveniente: foi nessa época que a prática da experimentação com animais vivos tornou-se amplamente difundida na Europa. A teoria de Descartes dirimia qualquer dúvida ou receio sobre os escrúpulos de tais práticas:

 

Batiam nos cães com perfeita indiferença e zombavam dos que sentiam pena das criaturas como se elas sentissem dor. Diziam que os animais eram relógios; que os gritos que emitiam quando golpeados não passavam do ruído provocado por alguma molinha que haviam acionado, mas, que o corpo, como um todo, não tinha sensibilidade. Pregavam as quatro patas dos pobres animais em tábuas para praticar a vivissecção e observar a circulação do sangue. (testemunho de um experimentador do seminário jansenista de Port-Royal, séc XVII).

 

Matriz moral moderna: as teses antropológicas sobre a natureza humana, com os vícios do antropocentrismo renascentista tomista consideram animais escravos do homem. Dizem que a natureza biológica do homem é superior e distinta dos animais; a razão instrumento tem autoridade soberana para estabelecer o âmbito da moralidade humana.

 

Tradição contratualista Moderna: os animais continuam a ser considerados meros meios para servir aos propósitos dos homens, protegendo a propriedade masculina sobre as coisas (natureza, mulheres, filhos, escravos, animais).

 

 

Iluminismo

 

            O iluminismo trouxe uma tendência de maior refinamento e civilidade, mas benevolência e menos brutalidade, e os animais se beneficiaram dessa tendência.

 

A experimentação animal revelou uma extraordinária semelhança entre a fisiologia dos humanos e de outros animais. O ponto de vista mecanicista tornou-se menos plausível. Voltaire questionou que, constatando que animais e homens compartilhavam dos mesmos órgão de sensação, teria a Natureza disposto todas essas fontes de sentimento nos animais para que eles não pudessem sentir?

 

            Houve um gradual reconhecimento de que outros animais sofrem e merecem alguma consideração. Tendo isso em vista, tínhamos licença para utilizar animais, mas deveríamos, agora, faze-lo de forma gentil.

 

            Também,  aumento os sentimentos anticlericais favoreceu o status dos animais. Voltaire, Rousseau, Émile foram alguns que deram força aos argumentos em prol do vegetarianismo. No entanto, Kant insistia em afirmar que animais existem meramente como meios para um fim, sendo esse fim o Homem.

 

            Foi nessa época que Jeremy Bentham escreveu Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação, sendo o primeiro, de fato, a denunciar o “domínio do homem”como uma tirania e não como um governo legítimo.

 

            O progresso intelectual ocorrido no século XVIII adentrou ao século seguinte, quando começaram as primeiras tentativas de elaboração de leis que impedissem os maus-tratos aos animais.

 

            Em 1822 foi aprovada a primeira lei sobre o tema, que tornava criminoso maltratar gratuitamente certos animais domésticos, propriedades de qualquer pessoa. Para ser aprovada, a lei teve der ser moldada para que parecesse proteger bens de propriedade privada, ou seja, pessoas, não animais. Para assegurar o cumprimento da lei, surgiu a primeira organização para promover o bem-estar animal, que se tornaria a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals.

 

 

            Alguns anos mais tarde, Darwin publicou A Origem das Espécies, onde prova que o homem foi criado a partir dos animais. Apesar de evitar o debate de que conseqüências morais traria sua teoria, do ponto de vista intelectual, Darwin ensejou uma revolução. Os seres humanos agora sabiam que não eram uma criação especial de Deus, feita à imagem divina e considerada distinta dos animais. E mais, nas palavras do próprio Darwin:

 

            “Vimos que os sentimentos e a intuição, as várias emoções e faculdades, tais como amor, memória, atenção e curiosidade, imitação, razão etc., das quais o homem se orgulha, podem ser encontradas, em estado incipiente, ou mesmo, por vezes, numa condição bem desenvolvida, nos animais inferiores”.

 

            O autor vai ainda mais longe, afirmando que o senso moral humano também pode ser retraçado aos instintos sociais humanos.

 

Obviamente, houve uma violenta resistência às teorias de Darwin. A idéia de que somos produto de um ato especial da criação e que os outros animais foram criados para nos servir não seria abandonada com facilidade. No entanto, as provas científicas quanto a origem comum dos seres humanos e outras espécies eram e são esmagadoras.

 

Até hoje, garanto que muitos dessa sala não sabiam ou até duvidam de que os animais possuem as faculdades supra citadas, mas o contrário foi provado por Darwin ainda no século XIX.

É claro que toda uma carga cultural, todo um ranço de tradição católica e carnívora tentam impedir que acreditemos que um animal possa, de fato ter memória, amor, curiosidade, e quanto mais razão. É claro que nossos costumes e hábitos nos fazem querer debochar de tais afirmações. Mas assim pensam os machistas com relação à libertação da mulher, e assim pensam os racistas com relação à escravidão. Justificar a maneira como tratamos os animais com a frase “mas eu preciso comer carne” não é melhor que justificar a escravidão com a frase “mas a economia depende dos escravos”.

 

           

            Diante desses fatos, poder-se-ia esperar que a humanidade caísse em si e promovesse ou, ao menos, admitisse a Libertação Animal. Sabemos que as coisas não saíram bem assim. Porque isso não aconteceu?

 

            Porque muitos autores e muitas pessoas perceberam que, a admissão de tais argumentos, tais teorias de Libertação Animal, levaria ao inevitável ato de parar de comer animais. De fato, propagar e apoiar a Libertação Animal e continuar a comer animais é uma contradição e uma hipocrisia. Dessa forma, para não incorrer em tal erro, mais fácil que parar de comer carne, é simplesmente negar a Libertação Animal.

 

            Então, para proteger esse hábito (que antes de mais nada, comer carne é um hábito – não uma necessidade, não um prazer – essas idéias derivam do hábito de comer carne), foi preciso criar um pretexto.

 

            O primeiro pretexto levantado foi o Divino: os animais nos foram enviados para servir-nos de comida. A partir da ordem geral da natureza, que instituiu o apresamento universal do mais fraco como um de seus princípios. Em primeiro lugar, não podemos apelar para a ordem geral da natureza apenas quando isso nos convier. Poluir a natureza vai de encontro a sua ordem geral, e nos fazemos isso a todo momento, a cada dia e talvez nesse exato momento. Depois, esse tipo de argumento legaliza brutalidades como o canibalismo, o estupro e a vingança privada, tão abominada pelo Direito.

 

            Outros muitos alegam, até hoje, que não haveria mal em se matar um animal sem lhe causar dor. Afora a questão da moralidade de matar sem dor, não se pode ouvidar que, necessariamente, há sofrimento envolvido na criação e no abate comercial de animais. Sejam quais forem as possibilidades puramente teóricas de abate indolor, o abate em larga escala de animais para se obter alimento não é nem nunca foi indolor.

 

            Animais são capazes, sim, de antecipar de alguma forma o que lhes está reservado, pelo menos desde o momento em que entram no matadouro e sentem o cheiro do sangue de seus companheiros. De outra forma, não ficariam tão agitados ao ponto de muitas vezes quebrarem equipamentos ou até machucarem outros animais na desesperada tentativa de salvar-se.

 

            Sabendo precisamente daquilo que está envolvido no ato de comer carne e na falta de argumentos que justifiquem tal ato, só resta aos que querem continuar carnívoros desviar o olhar dessa hedionda realidade. Do que mais desviarão o olhar?

           

 

Abordando agora a questão da morte indolor, que é inteiramente teórica e impossível de ser colocada, com plena segurança, em prática, matar sem necessidade alguém que se interessa em continuar vivo é um atentado contra o principio da igual consideração de interesses.

 

             A verdade dos fatos é que sabemos perfeitamente bem que as velhas razoes para pressupor a existência de um vasto abismo entre o “homem”e o “animal inferior”não são mais válidas, mas, ainda assim, continuamos a acreditar na existência de tal abismo.

 

            Concluindo: hoje, os interesses dos animais são levados em conta (se o são) somente quando não se chocam com os interesses humanos. Quando há colisão – mesmo uma colisão entre uma vida de sofrimento por um animal e a preferência gastronômica de um ser humano, o interesse do animal é desconsiderado. A atitude moral do passado está demasiadamente arraigada em nosso pensamento e prática para ser perturbada por uma mera mudança no conhecimento que temos de nós mesmos e de outros animais.

 

Cap. 6 – O especismo hoje… defesas, racionalizações, objeções à Libertação Animal e os avanços feitos para superá-los.

 

            O pcp moral da igual consideração de interesses deve reger nossas relações com todos os seres. Geração após geração, pensadores ocidentais tentaram defender o direito dos homens de ignorar tal pcp. Por isso, apenas mediante o rompimento radical com mais de dois mi, anos de pensamento ocidental relativo aos animais poderemos construir uma base sólida para a extinção dessa exploração.

 

Você sabe realmente por que come carne?

 

            Começamos a comer carne de animais muito antes de termos a capacidade de entender que estamos ingerindo o corpo de um animal morto. Assim, começar a comer carne nunca é uma decisão consciente, mas um hábito há muito estabelecido e reforçado por todas as pressões existentes no sentido da conformidade social para se comer a carne de animais.

 

            Desde crianças, nossa afeição pelos animais é estimulada, porém, limita-se a animais de estimação. A idéia transmitida às crianças sobre os demais animais fica muito longe da realidade. Livros e histórias infantis dão sempre a mesma impressão de simplicidade e pureza às granjas industriais, mostrando animais soltos e felizes, induzindo os pequenos leitores ao erro.

 

            A dificuldade é que pais não vegetarianos relutam em deixar os filhos saber a história completa, temendo que a afeição da criança pelos animais possa criar conflitos durante as refeições. Para piorar essa realidade, crianças criadas ouvindo histórias infantis que as levam a pensar que as fazendas são lugares onde os animais andam livremente, em condições idílicas, podem passar a vida toda sem jamais ser forçadas a revisar essa imagem cor-de-rosa, pois dificilmente terão contato, algum dia, com as granjas ou fazendas de verdade.

 

            Tampouco os meios de comunicação educam o público sobre o assunto. Na verdade, o telespectador médio deve saber mais sobre a vida de guepardos e tubarões do que sobre a vida de galinhas ou bezerros. A cobertura que dão a animais não-humanos é dominada por acontecimentos de “interesse humano”, como o nascimento de um gorila no zoológico, ou a ameaça de extinção de certas espécies; mas o desenvolvimento de técnicas de criação de animais, que privam milhões deles da liberdade de movimento, passa sem ser noticiado.

 

            É o exemplo da RBS, que (felizmente) é ativa na luta contra a (absurda e cruel) farra do boi, aqui em nosso estado, mas é completamente omissa à crueldade também existente nas granjas industriais do oeste, que aflige um número infinitamente maior de animais, inclusive bovinos! É errado maltratar animais por diversão (e realmente o é!!), mas não existem problemas em maltratar o mesmo animal pelo crescimento da economia…

           

A ignorância como a primeira linha de defesa do especista

 

            A ignorância prevalece a tanto tempo porque as pessoas não querem saber a verdade. Singer compara a ignorância em relação à criação intensiva de animais com a de uma geração de alemães relativa a outra forma de atrocidade, também escondida da maioria dos olhos. A ignorância dos fatos (ou a vontade de ignora-los) permitiu que os alemães apoiassem o nazismo. Hoje, permite a experimentação animal e a criação intensiva, entre tantas outras crueldades. Em ambos os casos, a responsabilidade surge pelo desejo de não tomar conhecimento de fatos que poderiam pesar na consciência.

 

Singer culpa, ainda, muitas associações de proteção animal de perderem o seu foco, de privilegiarem algumas questões em detrimento de outras, mais fáceis de combater e que contam com maior apoio político e financeiro. Atividade mais “seguras”, como recolher cães abandonados e denunciar atos isolados de crueldade tornaram-se a ordem do dia, e a luta contra a crueldade sistemática da experimentação, da criação industrial, dos rodeios, dos circos foi abafada. Com isso, “bem-estar animal” foi resumido a algo de senhoras bondosas que adoram gatos e cães e não uma causa fundada nos pcps básicos da justiça e da moralidade.

 

Outro pretexto utilizado pelos especistas é o de que “seres humanos vem em primeiro lugar”, e que qualquer problema relativo aos humanos é, necessariamente, mais importante e merece mais atenção que qualquer problema animal.

 

            Conforme já visto antes, sofrimento é sofrimento, não importa o desenvolvimento intelectual daquele que o sofre. Se um animal irracional ou um bebê, ou ainda um adulto senil têm a capacidade para sofrer (e já foi mais do que constatado que os animais a têm), então o seu sofrimento deve ser considerado da mesma forma que o sofrimento de um adulto qualquer.

 

            Além do mais, argumenta Singer, impedir o sofrimento animal, ou lutar para que ele acabe, não traz como conseqüência implicar sofrimento aos seres humanos.  Lutar pela liberdade das galinhas maltratadas nas granjas industriais não vai causar a fome de crianças na África, muito pelo contrário, como já restou demonstrado anteriormente, nas explicações acerca do capítulo 4. Não há nenhuma incompatibilidade entre buscar a melhoria  da educação infantil e lutar pelo fim da experimentação animal, por exemplo. Ser vegetariano não toma mais tempo que comer carne! Além disso, deve se perguntar a quem recorre a esta argumentação o que é que estão fazendo pelos seres humanos que os compele a continuar apoiando a exploração perdulária e cruel dos animais de criação.

 

            Singer ainda destaca o fato de ignorarmos nossa própria selvageria, ao mesmo tempo em que exageramos a dos animais não-humanos. Raramente paramos para considerar que o animal que mata com menos motivo para fazê-lo é o animal humano. Consideramos leões e lobos selvagens, porque eles matam; mas, se não matarem, passam fome. Seres humanos matam outros animais por esporte, para satisfazer sua curiosidade, embelezar o corpo. Matamos anualmente 100 milhões de galinhas, porcos e bovinos para satisfazer nosso paladar. Ainda matam membros de sua própria espécie por ganância ou poder. Quem são os verdadeiros selvagens?

 

            Outra grande falácia propagada pelo senso comum é de que galinhas poedeiras, bezerros e cães mantidos em gaiolas para fins de experimentação com isso não sofrem, uma vez que jamais conheceram outras condições. As pessoas que acreditam nisso esquecem que os animais (e nós mesmos) possuímos instintos e grande prova da deturpação que tais métodos provocam em seus indivíduos é a grande incidência  de vícios como o canibalismo entre animais que passam por tais práticas.

 

            Sobre as afirmações de que, por piores que sejam as condições nas grajnas industriais modernas, ao são piores do que as do ambiente selvagem, onde os animais estariam expostos ao frio, à fome e a predadores. Os defensores da escravidão usavam o mesmo argumento. Animais criados em granjas industriais não podem correr, esticar-se livremente, ou fazer parte de uma família ou rebanho. Sua vida é um tédio total, sem nada para fazer, a não ser deitar-se na baia e comer.

 

            Outra objeção ao vegetarianismo seria a de que, se outros animais matam para se alimentar, também podemos fazer isso. Mas, embora os seres humanos possa viver sem matar, outros animais não têm escolha, senão matar, para sobreviver. Por isso, e também pelo fato de que os animais são (em comparação com os humanos) irracionais,não faz sentido culpar ou responsabiliza-los. Por outro lado, cada pessoa que lê esse trabalho é capaz de fazer uma escolha moral sobre tal matéria.

 

            Além disso, é estranho como os seres humanos, que se consideram muito superiores a outros animais, recorram a um argumento que implica em olhar os animais como parâmetro de orientação e inspiração moral.

           

            Sobre a igualdade, Singer lembra que não afirma serem os animais capazes de agir moralmente, mas que o princípio moral da igual consideração de interesses tato se aplica a eles quanto aos seres humanos. Citando novamente Bentham, o que importa não é se podem escolher, mas se podem sofrer.

           

            Alguns ainda argumentam que os animais comem uns aos outros e que isso é parte da “ordem geral da natureza”. Mas porque deveríamos imaginar que nossa natureza se parece mais com a do tigre carnívoro do que com a do gorila vegetariano?

           

            Em nível puramente prático, Singer afirma: “matar animais para obter comida ( exceto quando estritamente necessário para a sobrevivência) nos faz pensar neles como meros objetos, que podemos utilizar sem cerimônia para nossos próprios fins não essenciais. Mesmo que, de fato, com a extinção das granjas industriais muitos animais não nasceriam (não seriam fabricados), traze-los à existência para uma vida desse tipo não é beneficia-los, mas causar-lhes grande malefício.

           

            Em resumo, a obediência ao princípio da igual consideração de interesses exige que as pessoas se tornem vegetariana. Porém, talvez muitos de nós pensemos que pouco importa a obediência de um princípio, e que regrar suas vidas, suas escolhas e, especialmente sua alimentação em princípios, regras e toda uma fundamentação filosófica é “coisa para filósofos”, “gente do cfh”… Quem realmente pensa no pomposo princípio da igual consideração de interesses quando se depara com um delicioso filé mignon em sua frente? Bem, Singer, como um filósofo, usa de toda uma argumentação baseada em princípios éticos, morais e filosóficos para tentar nos convencer de que, de fato, devemos, entre outras coisas, parar de comer carne. Mas nós não precisamos nos tornar filósofos, ou decorar princípios e argumentos. Devemos apenas parar e refletir, por que nós sabemos que isso é errado!

           

A indústria do frango como um sucesso do agronegócio   

 

           Atualmente, mais de 100 milhões de bois, porcos e ovelhas são criados e abatidos, por ano, somente nos Estados Unidos; quanto a aves de produção, chega ao assombroso número de 5 bilhões

 

           Cinqüenta grandes empresas praticamente controlam, hoje, toda a produção avícola dos Estados Unidos

 

           A criação de animais, agora, transformou-se em “criação industrial de animais”

 

           O primeiro passo para a transformação de galinhas de aves criadas no terreiro em itens manufaturados é o confinamento em galinheiros fechados, ou aviários

 

           Os frangos d corte são mortos quando atingem 7 semanas de idade, ao passo que a expectativa d vida natural de uma galinha é de cerca de 7 anos

 

           Findo esse breve período, pesando entre 2 e 2,5 kg, as aves dispõem de um exíguo espaço de 4,5 cm2 – menor que a área de uma folha de papel ofício

 

           Solução altamente drástica, mas amplamente utilizada para se conter os denominados “vícios” que podem acometer os animais é a denominada debicagem

 

           Nesse processo, cerca de 15 pintinhos são debicados por minuto

 

           Quanto aos cuidados destinados aos animais em uma unidade de criação intensiva, pode-se dizer que se um criador tivesse de gastar mais de 1 segundo por dia com cada ave, levaria mais de 24 horas só para inspecionar uma unidade com 88 mil aves – um criador moderno de aves apenas retira as aves mortas

 

           Uma causa de morte nova e ainda misteriosa é conhecida simplesmente como “síndrome da morte súbita”, ou SMS – aparentemente produto das condições artificiais geradas pela indústria de frangos

 

           Uma revista avícola britânica informou a seus leitores: “a poedeira moderna, afinal de contas, é apenas uma eficiente máquina de conversão, que transforma material bruto – ração – num produto acabado – o ovo – excluindo, claro, o que é gasto com sua manutenção”

 

           Algumas mudanças nesse quadro adverso:

 

 – em 1981, a Suíça deu início ao processo de acabar, em 10 anos, com as baterias; e no primeiro dia de 1992, as gaiolas tradicionais passaram a ser consideradas ilegais e todas as galinhas poedeiras passaram a dispor de ninhos protegidos, com piso macio. Na Holanda, as baterias de gaiolas convencionais se tornaram ilegais em 1994

 

– uma lei sueca, sancionada em 1988, exigia a abolição de gaiolas para galinhas dentro de 10 anos e declarava que vacas, porcos e animais criados para retirar a pele devem ser mantidos “em ambientes os mais naturais possíveis”

 

– ao final de 1991, a  Suíça passou a exigir que as poedeiras tenham proteção, escuridão e piso macio ou caixas cobertas de palha para fazerem ninho

 

? Os gerentes de granjas industriais obtêm lucros maiores quando mantêm os animais em condições de superpopulação, ainda que mais animais morram nessas condições

 

? Quando a produção de ovos começa a cair, é possível reverter a capacidade reprodutiva das galinhas mediante um procedimento conhecido como “muda forçada”

 

Os porcos e a indústria de suínos

 

           Quando mantidos em ambiente nu ou superlotado, os porcos ficam propensos ao denominado “vício” – com o intuito de “evitar” tal situação, descobriu-se uma maneira de eliminar os sintomas do problema, sem alterar as condições que o causam: cortar fora a cauda dos porcos

 

           PSS (porcine stress syndrome) – síndrome do estresse suíno – semelhante às galinhas, os porcos sofrem de estresse e, em muitos casos, morrem disso

 

           Na indústria de suínos, em contraposição à indústria de frangos e de ovos, o confinamento total ainda não é universal, embora a tendência seja nessa direção

 

           Em razão do confinamento restritivo e com objetivo de aumentar a produção, por pelo menos 10 meses a porca prenhe e lactante não pode caminhar

 

           Dar a animais de procriação mais do que o mínimo necessário para mantê-los reproduzindo é, do ponto de vista do produtor, simplesmente desperdício de dinheiro

 

Indústria de vitela

 

           A essência dessa produção é a alimentação de bezerros confinados e anêmicos com uma ração altamente protéica, de forma a produzir uma carne macia e pálida, que será servida a clientes de restaurantes caros

 

           Vitela, aos que não conhecem, é a carne de um jovem bezerro

 

           O desejo insaciável do bezerro anêmico por ferro é uma das razões pelas quais o produtor se preocupa em impedir que ele se vire na baia; pois, em uma atitude de desespero, o bezerro, que naturalmente não se aproxima de seus excrementos, chega a lamber sua própria urina à procura de ferro

 

           Para garantir que comam o máximo possível, a maioria dos bezerros não recebe água, tendo como única fonte de líquido a comida

 

           Muitos bezerros são privados de estímulo visual – são deixados no escuro – por mais de 22 horas a cada 24 horas, com o objetivo de reduzir seu desassossego

 

A indústria de lacticínios

 

? Na lógica dessa indústria, faz-se necessário que os produtores assegurem que suas vacas leiteiras engravidem todos os anos, para que assim produzam leite continuamente. Após nascerem, os bezerros são tomados de suas mães e destinados muitas vezes à industria de vitela

 

? No auge da produção, poucas semanas depois de parir, a vaca muitas vezes gasta mais energia do que é capaz de repor. Como sua capacidade de produzir supera sua capacidade de metabolizar alimentos, a vaca começa a emagrecer e a usar seus próprios tecidos corporais – ela começa a “transformar em leite a sua própria carne”

 

O gado de corte

 

? Em comparação com frangos, porcos, vitelos e vacas leiteiras, o gado de corte ainda vive mais em espaços ao ar livre, mas o tempo que lhe resta para aproveitar isso vem diminuindo; atualmente, o gado é recolhido depois de cerca de 6 meses para a “terminação” – isto é, são levados para alcançar o peso e as condições de mercado por meio de uma dieta mais rica que o pasto. Ali, são alimentados por 6 a 8 meses com milho e outros cereais, e então, enviados para abate.

 

 

 

             Não é possível, na prática, criar animais para gerar comida, em larga escala, sem infligir considerável sofrimento.

 

            Mesmo que não sejam utilizados métodos intensivos, a criação tradicional envolve castração, separação da mãe e do filhote, divisão de grupos sociais, marcação, transporte para o abatedouro e, finalmente, o próprio abate.

 

            Os criadores intensivos continuarão se utilizando desse método, desde que, com eles, se consiga vender o que produzem, e poderão defender-se contra as críticas, respondendo que simplesmente oferecem o que o público quer.

 

            É nesse ponto que as conseqüências do especismo entram diretamente na nossa vida.

 

            Protestar contra touradas na Espanha, contra que se coma cachorro na Coréia do Sul, ou contra o assassinato de foquinhas no Canadá e continuar comendo a carne de animais que passaram a vida espremidos em gaiolas, ou vitela de bezerros que foram privados de suas mães e da liberdade de esticar as pernas, é como denunciar o apartheid na África do Sul e pedir ao vizinho que não venda a casa para negros.

 

            Diz-se que tais métodos são necessários para alimentar a crescente população mundial. A verdade é que estamos alimentando os animais com comida que nós próprios poderíamos comer.

 

            É preciso dar ao bezerro dezenove quilogramas de proteína, em ração, para produzir menos de um quilograma de proteína animal, para seres humanos. Recuperamos menos de 5% daquilo que investimos.

 

            A maioria das estimativas conclui que alimentos de origem vegetal rendem cerca de dez vezes mais proteína por hectare que a carne.

 

 

 

            Se os norte-americanos reduzissem seu consumo de carne em apenas 10% por um ano, isso liberaria pelo menos 12 milhões de toneladas de grãos para o consumo humano – ou o suficiente para alimentar 60 milhões de pessoas.

            Os alimentos de origem vegetal consomem muito menos recursos e agridem muito menos o meio ambiente.

 

            Além dos fatos expostos, há ainda, a ser considerado, o altíssimo consumo de água e energia pelos métodos atuais de criação, além da poluição causada nos rios e na terra, principalmente por excrementos, que não recebem o correto tratamento, e nem são despejados em locais adequados.

 

            O prodigioso apetite por carne das nações afluentes significa que o agronegócio pode pagar mais do que aqueles que desejam preservar ou recuperar o meio ambiente. Estamos, literalmente, brincando com o futuro do nosso planeta – para benefício dos hambúrgueres.

 

 

            Muitos estão dispostos a admitir que os argumentos em favor do vegetarianismo são fortes. Com muita freqüência, no entanto, há um abismo entre a convicção intelectual e a ação que se faz necessária para romper um hábito de uma vida inteira.

 

            Já dizia Isaac Singer, prêmio Nobel de literatura em 1978: “As pessoas dizem que o homem sempre comeu carne, como se fosse uma justificativa para continuar fazendo isso. De acordo com essa lógica, nós não deveríamos tentar prevenir pessoas de assassinarem umas às outras, já que isso também tem sido feito desde o início dos tempos”.

 

            Quando aos nutrientes, muitas pessoas se preocupam em não ingerir todos os necessários para uma vida saudável.

 

            Quanto à proteína, a carne é tão-somente um entre a grande variedade de alimentos que a contêm. A maioria dos alimentos de origem vegetal que ingerimos (feijão, ervilha, trigo, arroz, batatas) contêm proteína em quantidade suficiente para fornecer ao organismo as proteínas dos quais ele precisa.

 

            Somente vegans, que não ingerem nenhum tipo de alimento de origem animal, precisam ter cuidados com sua alimentação (vitamina B12)

 

Pesquisas:

 

            Nos EUA, em 1986, estimativas calculavam entre 17 e 22 milhões o número de animais utilizados em experimentos.

 

            O apoio aos testes se dá pela crença de que, através deles, se está salvando milhões de pessoas, ou, ao menos, melhorando a qualidade de vida dos seres humanos.

 

            Os resultados desses testes não podem ser usados para prever a toxicidade, nem para orientar a terapia no caso de uma exposição humana. Como médico especializado em medicina de emergência e mais de 17 anos de experiência no tratamento de envenenamento acidental e exposição a substâncias tóxicas, não conheço nenhum exemplo em que um médico emergencista tenha utilizado os dados de testes Draize para tratar lesões nos olhos. Nunca usei os resultados de testes em animais para tratar de casos de envenenamento acidental. Quando precisam determinar o melhor curso de tratamento para seus pacientes, os médicos emergencistas utilizam relatórios de casos, experiência clínica e dados experimentais de testes clínicos em seres humanos. (Dr. Christopher Smith, médico de Long Beach, CA)

 

            Freqüentemente, os estudos em animais provam pouco ou nada, e é muito difícil correlacioná-los a seres humanos.

 

            Os procedimentos descritos no livro foram tirados diretamente de relatórios escritos pelos próprios cientistas.

 

            Apenas cerca de 10% de todos os experimentos são considerados de importância suficiente para serem publicados.

 

            Os experimentadores não podem negar o sofrimento dos animais, pois precisam ressaltar as semelhanças entre humanos e outros animais para alegar que seus experimentos podem ter alguma relevância para os seres humanos.

 

            Os laboratórios, e empresas que se beneficiam com a indústria dos experimentos têm conseguido convencer os legisladores e o público de que a oposição é feita por fanáticos desinformados, que consideram os interesses dos animais mais importantes que os interesses dos seres humanos.

 

            Isolamento social total (macacos): diferenças de comportamento entre as espécies

 

            Desamparo aprendido (como modelo de depressão dos seres humanos)

 

            DL50 – dose letal para 50%: a quantidade de substância letal que matará metade dos animais do estudo.

 

            Draize (coelhos): testes, principalmente, de produtos de beleza, que são colocados diretamente nos olhos do animal

 

            PEP – Plataforma de Equilíbrio de Primatas

 

            Algumas conclusões retiradas de relatórios, após pesquisas com os animais:

 

           “Resultados lembram nitidamente o trabalho anterior…”

 

           “Descobertas consistentes com resultados de estudos com pacientes psiquiátricos. Reconhecem que os resultados do experimento não podem corroborar nem rejeitar firmemente as idéias ora existentes.”

 

           “Implicações dessas descobertas para a teoria do desamparo aprendido não estão inteiramente claras…”

 

           “Quarenta macacos foram envenenados com um herbicida letal. Ficaram muito doentes e tiveram uma morte lenta. Já se sabia que o envenenamento de seres humanos com este herbicida resultava em morte lenta e agonizante.”

 

           “Os achados estão de acordo com o que é relatado na literatura sobre seres humanos.”

 

           “Novas pesquisas são necessárias…”

 

           “Os achados sobre febre induzida artificialmente em gatos estão de acordo com os resultados clínicos, os obtidos por eletroencefalogramas de seres humanos…”

 

           “O isolamento precoce suficientemente restritivo e duradouro reduz esses animais a um nível sócio-emocional em que a reação social primária é o medo”

 

           “A conclusão geral foi que a exposição a eventos aversivos incontroláveis é consideravelmente mais estressante para o organismo do que a exposição a eventos aversivos controláveis”

 

           “Quanto antes for reduzida a temperatura da vítima de intermação, maior a chance de recuperação.”

 

           “…a combinação da barreira de vidro com o choque nas patas é muito eficaz em eliminar o salto dos cães”

 

           Pesquisas de isolamento com bebês chimpanzés foram feitas porque “relativamente pouco trabalho experimental havia sido feito em grandes macacos, em comparação com outros”

 

           Testes de novos cosméticos – “falta de alternativas” – as empresas não estão interessadas em destinar recursos para pesquisar alternativas, apenas com a pressão dos consumidores, e boicote de seus produtos, elas começam a restringir as pesquisas com animais.

 

           “Cegueira ética condicionada”: assim como um rato pode ser condicionado a pressionar uma alavanca em troca de comida, um ser humano pode ser condicionado, mediante recompensas profissionais, a ignorar questões éticas suscitadas pelos experimentos em animais.

 

           Para que se admita um teste em animal, é preciso, também, admitir que este possui características significativamente semelhantes às humanas.

 

           O argumento utilizado para o uso de animais é o de que eles não possuem consciência, não tendo capacidade de desenvolver raciocínio.

 

           Sob este prisma, o animal não diferencia de um bebê humano, ou de um ser humano com grave retardo mental.

 

           Se o experimentador alega que o experimento é importante suficiente para justificar a imposição de sofrimento a animais, por que não é importante o bastante para justificar que se inflija sofrimento a seres humanos do mesmo nível mental? Qual a diferença entre os dois? Apenas que um é membro da nossa espécie e o outro não é?

 

           É importante perceber que os principais problemas de saúde do mundo continuam amplamente a existir, não porque não sabemos como prevenir as doenças e manter as pessoas saudáveis, mas porque ninguém está se esforçando e destinando dinheiro suficiente para que se faça o que já sabemos fazer.

 

           A insulina pode provocar deformidades em coelhos e camundongos, mas não nos seres humanos.

 

           A morfina, calmante para seres humanos, provoca frenesi nos ratos.

 

           Opren (droga para tratamento de artrite): foi aprovada em todos os testes com animais antes de ser liberada. Teve que ser retirada do mercado, depois de 61 óbitos e mais de 3.500 casos registrados de reações adversas.

 

 

* Texto enviado de forma anônima

 

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Como citar e referenciar este artigo:
ANÔNIMO,. Resumo: Libertação Animal – Peter Singer. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/resumos/etica/resumo-libertacao-animal-peter-singer/ Acesso em: 29 mar. 2024