O discurso anêmico e bem comportado de Aécio Neves, ontem, no seu retorno ao Congresso Nacional, foi distinto e antagônico com o chamamento que o PT fez aos seus militantes, para irem “às armas” contra a oposição. O candidato derrotado perdeu a oportunidade de afirmar-se como o polo legítimo de enfrentamento do governo petista.
Em contrapartida, o PT, pelo Facebook, arreganhou os dentes ao usar a metáfora guerreira. Essa sempre foi a disposição do PT, que vê eleições como um teatro de guerra e, de acordo com suas regras, tudo que leva à vitória é permitido. E também vê os intervalos entre as eleições um interstício para ganhar apoios e votos nas futuras eleições.
Falta ao PSDB esse elã de combate político. O partido deixa passar a imagem de conivência e tolerância contra os malfeitos do PT. Para piorar, não fez nenhum gesto para seus apoiadores de véspera, os eleitores que estão à direita do espectro político. Ao contrário, desprezou qualquer das bandeiras caras à direita. O PSDB acha que ganhará eternamente o voto dessa gente, que ainda não tem opção, mas poderá ter. Sem os votos da direita o PSDB não ganhará nenhuma eleição presidencial.
O PT já se posicionou com Lula, que propõe um chamamento de Dilma aos partidos à esquerda. Faz todo sentido. Além da convergência programática, temos que a esquerda mais radical repudia Aécio Neves como se de direita fosse. Ou “neoliberal”. O irracionalismo nos meios esquerdistas radicais é total e sem dúvida poderão abraçar o chamamento de Lula.
O PT tem sistematicamente ameaçado as instituições democráticas, seja porque praticou a corrupção sem limites para manter-se no poder, seja porque quis sovietizar o Estado mediante decreto, seja, ainda, porque tem planos específicos para “regular” a mídia, isto é, para censurar a imprensa livre.
Descuidar da vigilância sobre esse partido é compactuar com ele. O PT quer apenas perpetuar-se no poder, a qualquer preço, de forma totalitária. Não se pode ignorar uma ameaça tão grande. O apelo que fez à militância, e que tem feito aos mal-afamados movimentos sociais é a prova de que não está para brincadeira.
É como se o PT fosse um profissional da revolução, duelando com um amador da política parlamentar de gabinete. Ganha de saída todas as escaramuças.
Creio que caberia a Aécio Neves fazer um discurso forte e afirmativo, mesmo sem apelar para qualquer pedido de impeachment. Ainda não há elementos jurídicos disponíveis para se pensar nessa alternativa, mas ela não pode ser descartada a priori. Aécio Neves errou em dizer-se contra um eventual pedido de impeachment, pois quem está informado sabe que as denúncias do Petrotão poderão comprometer a presidente e o próprio Lula. Foi um erro grave.
Esse bom-mocismo do PSDB tem sido a sua perdição. Foge ao enfrentamento, aguenta todo tipo de desaforo e permite que a mentira prospere em prejuízo da sua imagem. Enquanto não combater com dureza o PT não será alternativa de poder. A continuar assim, o PT ganhará todas e nem precisará fraudar as eleições.
www.nivaldocordeiro.net – 05/11/2014