Diário de Estagiário

Papo-furado

 

Confesso que até eu mesmo resisto, de tempos em tempos, a não usar eufemismos ou vocabulários espalhafatosos demais. Não acho que isso leve a algum lugar e, ao contrário do que pensam muitos, não é tal uso que confere maior confiabilidade ou plausabilidade a um texto. Ao invés, alguns ainda devem parar, olhar torto e pensar o bom e velho “… hã?!”.


No entanto, exatamente do outro lado de tal estrada, tem aqueles que lançam mão de jargões e outras expressões de origem duvidosa e emprego mais suspeito ainda que não fazem nada a não ser empobrecer a redação, criando algo semelhante a buracos no meio de um terreno.


O trecho abaixo veio de um caso cível onde a dona de uma empresa de tele-entulho se sentiu lesada ao encomendar um número de caçambas que, quando entregues, não se adequaram aos caminhões de sua propriedade:


“Quanto ao modelo de caminhão, balela o alegado pela ré, já que existe um padrão…”

Balela? Eu fiquei olhando para a frase algumas vezes, tentando me convencer de que isso não estava escrito ali – mas estava. Deem seus votos, brega ou cafona, não importa, é feio pra caramba.
Que tal escrever que “a versão aludida pela requerida não merece crédito” ou mesmo que “a história apresentada pela ré carece de credibilidade”, qualquer coisa!

Não acho que eu mereça ter de ficar lendo isso… e eu sou só o estagiário!

 

Como citar e referenciar este artigo:
BELLI, Marcel. Papo-furado. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/diario-de-estagiario/papo-furado/ Acesso em: 28 mar. 2024