Acabo de ler uma entrevista com Adolfo Pérez Esquivel, arquiteto e argentino, que pela sua luta contra a chamada “Guerra Suja” quando da perseguição militar no seu país, em 1980, ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Ele acaba de participar ativamente do 2º Fórum Social Mundial que como na primeira vez, se reuniu em Porto Alegre – RS.
Sua inserção permanente em movimentos do gênero, o conjunto de que se compõe sua vida, seu passado e presente de lutas o credenciam a ser apontado como bom, aliás, ótimo candidato a presidência da República em seu país.
À pergunta no sentido, respondeu que já lhe foram feitas diversas propostas, entretanto, acrescentou: “o problema não passa por uma pessoa, mas pela construção de um projeto alternativo que tenha apoio popular. É preciso reconstruir o país, refundar a República e há muita gente na Argentina capaz de desempenhar esse papel. … estou disposto a trabalhar não só como presidente, mas inclusive no posto mais humilde, que também é tão importante quanto”.
Bravo!!! No entanto, a maioria ainda pensa que para contribuir com o bem comum é indispensável um mandato político. Confunde-se cargo eletivo com responsabilidade política. Os cargos serão ocupados por poucos, os mais votados, enquanto a responsabilidade política requer continuidade do exercício da cidadania que começa na hora do voto.
É também real, a omissão da parte de quem tem condições de exercer com mais propriedade um mandato político contribui para que muitos que não têm nenhuma, se arvorem, acabam por serem eleitos e cometem verdadeiros desastres.
Cada dia demonstra com mais clareza a necessidade de lutar contra o poder dominante. Urge derrubar as situações de injustiça que foram criadas, ter a coragem de admitir que grandes problemas têm soluções fáceis que não são adotadas, ter coragem de prosseguir não obstante as necessidades com que a gente se depara.
Acabamos de ser surpreendidos com a notícia de que a gasolina irá subir progressivamente, em breve, valerá mais vinte por cento. Então, por que abaixou? Medidas econômicas “bushianas” forçam nossas siderúrgicas a buscarem outras alternativas de mercado. Repudiamos o ataque terrorista de 11 de setembro, mas já sabemos quem matou mais, não foram “aqueles aviões”? mas os massacres indiscriminados no Afeganistão. “Ele” já pensa em armas químicas. Não é só para dizer que as tem. Quem é mais terrorista?
Pode-se dizer que iniciativas como a do Fórum Social Mundial permitem reflexão dentro da diversidade e ajudam a encontrar soluções para os problemas hodiernos, no mundo. No mundo, notem bem.
Queremos solução? ela passa pela ciência de que toda função honesta é tão importante quanto.
Alertado sobre o perigo da utopia, Esquivel lembrou os estudantes de maio e 1968, na França, os quais repetiam: “Sejamos realistas, peçamos o impossível”.
* Marlusse Pestana Daher, Promotora de Justiça, Ex-Dirigente do Centro de Apoio do Meio Ambiente do Ministério Público do ES; membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, Conselheira da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória – ES, Produtora e apresentadora do Programa “Cinco Minutos com Maria” na Rádio América de Vitória – ES; escritora e poetisa, Especialista em Direito Penal e Processual Penal, em Direito Civil e Processual Civil, Mestra em Direitos e Garantias Fundamentais.