Sociedade

Ressurgir individualmente para alcançar a justiça.

 

O Brasil é um país completamente diferente de todos os outros do mundo. Um país jovem, porém que já passou por muitos problemas e tropeços dignos de um país europeu.

 

Já tivemos desvalorização da moeda; enfrentamos a inflação; já vimos a ditadura bater a nossa porta e reprimir nossa imprensa e matar nossos guerreiros; e ainda condenamos inocentes o tempo todo com decisões inconseqüentes diante das urnas.

 

Doutores e leigos incentivam a corrupção o tempo todo e de todas as formas possíveis e imagináveis. Corremos com os lobos, mas somos reféns dos nossos criminosos.

 

No entanto, fomentamos alcançar um dos topos da tecnologia a passos largos. Tem-se a pretensão de enveredar pelos meandros da Energia Nuclear.

 

Gastos infames, subterfúgios inconcebíveis e simplesmente uma opção de possível recurso energético e auxilio ao setor farmacológico. E claro se mostrar como foco de alta tecnologia e ressuscitando o velho sonho de domínio nuclear.

 

Financeiramente os apontamentos mostram gastos exorbitantes, num país que flerta com a recessão e mal dá o que comer ao seu povo. São mais de 3,5 milhões de dólares para a construção de Angra 3, lançando como base a previsão de construção em 6 anos. Havendo grandes possibilidades, de como tudo no Brasil, de se estender esse prazo por qualquer imprevisto ou simplesmente pela defasagem de receita, esse valor se exorbitaria.

 

Ultrapassando perspectivas de crescimento e alcançando possibilidades de estagnação da obra.

Segundo o especialista Günther Maihold [1]:

 

Os investimentos diretos em energia nuclear não são muito mais elevados do que numa grande hidrelétrica. O verdadeiro custo são os perigos que podem surgir dela. O enriquecimento do urânio, o reprocessamento, o armazenamento de lixo atômico e sobretudo riscos causam os principais custos.

 

            E ainda continua:

O país tem muitas outras fontes de energia e, sob o ponto de vista europeu, certamente faria melhor se investisse em energias renováveis, como hidroeletricidade.

 

Não precisamos de mais um motivo de intervenção externa em nossa política ou decisões, já basta nossa floresta amazônica reduzida a um quintal de influências norte-americanas. Um país tão equivocado quanto variado tem muitas outras opções de revolução tecnológica sem arriscar sua saúde ecológica ainda mais.

 

De forma geral, o mundo poderia deixar o culto ao ego e a preocupação de se impor perante outros países e buscar harmonia de seus esforços, adequar cada região com seu propenso potencial energético local, seja utilizando energia solar, eólica, hidrelétrica ou mesmo nuclear, porém sem sacrificar outros campos em nome de um poder artificial e momentâneo.

 

Existem outros recursos para o Brasil, inclusive mais baratas e com menor possibilidade de impacto ambiental.

 

Creio que a grande solução aos fatídicos problemas que assolam a humanidade seja a falta de flexibilidade ou dinamismo de decisões ou a simples resistência a inovação na formas de encarar os fatos que nos ladeiam desde tempos remotos.

 

É fato que o Brasil por mais bem intencionado que seja, ou não, jamais conseguirá se impor perante outras nações ou mesmo enriquecer-se interiormente por uma simples aposta cega, é visível seu déficit perante outros países.

 

Os passos para o sucesso devem ser seguidos a risca quando se tem milhões de pessoas sobre suas asas e um imenso patrimônio natural, atalhos podem ser desastrosos, podem findar na entrega da própria cabeça ao inimigo.

 

Cito ainda que almeja tão grandioso passo, um país que não respeita seu povo, submetendo-o a total defasagem educacional, a falta de assistência básica a saúde e ainda a remunerações irrisórias por seu trabalho.

 

Para aqueles que asseguram não ser armamento nuclear a intenção do Brasil em reativar suas Usinas, gostaria de mencionar o fato de a indústria bélica movimentar milhões no país, um comércio de morte que muitas vezes é distorcido e ajuizado pela legislação, contra a população e em favor dos criminosos que tem acesso a armamento pesado de origem militar.

 

Um país que em tempos de olimpíadas, não consegue ao menos preparar bem seus atletas, pessoas que na grande maioria das vezes nem auxilio do governo recebe, que não foram educados a ter disciplina de campeões, porque a cultura que envolve o país prefere tornar relevante o conhecido “jeitinho” de ir levando as coisas pra frente até onde der, e só.

 

O povo não é meramente uma vítima do sistema, ele é o impulsionador desse sistema falho, cheio de defeitos ratificados a cada confronto eleitoral. Um país que escolhe seus governantes a revelia, que não tem voz ativa nem mesmo diante dos seus, que simplesmente prefere seguir um ilusório padrão de conduta social e política. Reduz tudo a simples falta de opção. Não, falta ação efetiva que ramifica e suja nossa imagem e respeito individual e mundialmente.

 

Manipulamos nossas leis em favor daqueles que pagarem mais, esquecemos o que nos é de direito em troca de favorecimentos torpes e incógnitos.  Nossas leis são criadas por e discutidas, muitas das vezes, por pessoas que nem ao menos tem consciência de seu papel como cidadão, quanto mais de legislador.

 

O Direito muitas vezes vem sendo usado, quando o é, de forma não a ordenar, mas contribuir com caos que assola as esferas sociais do país.

 

Não acreditamos nas nossas leis, nem sequer a conhecemos em sua totalidade, nosso povo não se interessa pela justiça, mas teima em contestar que ela não se efetive diariamente. 

Ainda ressurgiremos pela Vida, na esperança de que a árdua lide resultará em Justiça, se expandirá para além da consciência e nosso povo terá voz ativa construindo seu futuro.

 

Triste um país de beleza correspondente ao seu gigantismo geográfico, um dito país continental jogando fora, dia após dia, sua Natureza e esperança. Indo atrás de sonhos precários, destruindo suas oportunidades de ganhar um mundo num sorriso largo de compromisso com a Terra e seu desenvolvimento auto-sustentável.

 

Somente com ordem, compromisso, equidade e disciplina se alcançam o mérito da Justiça.

 

 

* Sue Ellen Sales, Estudante da Universidade Presidente Antonio Carlos; Estagiária da Defensoria Pública de Minas Gerais 1ª Vara de Família e Sucessões e do Gabinete do Juiz da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora.



[1] Günther Maihold, vice-diretor da Fundação Ciência e Política (SWP), em Berlim.

Como citar e referenciar este artigo:
SALES, Sue Ellen. Ressurgir individualmente para alcançar a justiça.. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/ressurgir-individualmente-para-alcancar-a-justica/ Acesso em: 28 mar. 2024