Sociedade

Bispo Macedo é Inocente

 

O Ministério Público de São Paulo denunciou o bispo Macedo da IURD por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Há alguns anos ele havia sido denunciado e chegara a passar alguns dias na prisão por sonegação de imposto de renda.

 

Ficou indelevelmente gravada em minha consciência aquela cena assaz comovente e portadora de indizível indignação: o bispo, um homem de Deus, atrás das grades e de Bíblia em punho clamando, não pela justiça dos homens, sabidamente falha, mas sim pela justiça divina que jamais abandonaria um homem de fé sabidamente inocente.

 

Por um lamentável equívoco de contabilidade cometido por seus contadores e por um descuido da Receita Federal, a declaração do bispo não passou pelo pente fino e Macedo foi tomado como um sonegador. Mas, uma vez esclarecido o equívoco e constatada a ausência de dolo, o bispo foi libertado, tendo pago somente o que era de fato devido ao fisco.

 

No entanto, agora pesa sobre ele uma acusação muito mais grave: formação de quadrilha e lavagem de dinheiro!

 

Após uns seis anos de investigações feitas até mesmo na Europa, o grupo de promotores públicos acredita estar de posse de fortes indícios de que os milhões de reais arrecadados pela IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) de seus milhões de fiéis e supostamente destinado à construção de templos, obras de caridade – e outros destinos lícitos do dinheiro de uma instituição religiosa – eram na realidade endereçados a empresas com fins lucrativos, como toda e qualquer empresa não-religiosa numa sociedade capitalista.

 

A arrecadação de dinheiro proveniente do dízimo dos fiéis, bem como de outras doações feitas pelos devotos de religiões neopentecostais costuma provocar a indignação de muitos espíritos incapazes de compreender a natureza desse ato abençoado, além de consagrado pelo Livro de Tobias no Antigo Testamento, se não nos falha a memória. Além disso, se alguém dá o que é seu, de livre e espontânea vontade, que mal pode haver em tal coisa?

 

Se por acaso houvesse alguma forma de coação – ainda que não fosse o caso extremo de revólveres encostados nas cabeças dos fiéis- caberia falar numa infração da lei, mas como podemos considerar coator alguém que emprega seus grandes dons de persuasão, para persuadir alguém a dar o que é seu?

 

Se o considerássemos como tal, teríamos de considerar igualmente coatores políticos que persuadem eleitores a dar seus votos para eles em troca de coisas prometidas por falsas promessas.

 

Todavia, desconhecemos quem tenha sido condenado por estelionato eleitoral… De falsas promessas, nutre-se o político e fica anêmico o povo.

 

Mas, a bem da verdade, não são as doações milionárias em si mesmas – prova incontestável da fé de milhões de adeptos da Igreja Universal – que são alvo da denúncia do Ministério Público, mas sim o destino das mesmas que teriam sido remetidas a empresas, contrariando, assim, o que era esperado pelos doadores, bem como o que era esperado, consoante a lei, de uma instituição religiosa sem fins lucrativos.

 

Se, de um ponto de vista jurídico, esse desvio de finalidade do dinheiro pode caracterizar estelionato – o notoriamente conhecido Artigo 171 – de um ponto de vista religioso caracteriza prática de simonismo,i.e. comércio de coisas sagradas.

 

Mas como o bispo Macedo, um homem de Deus, um missionário com a grande missão de levar a palavra do Senhor e converter milhões de almas atormentadas pelo pecado , seria capaz de perpretar semelhante ignomínia?!

 

Estamos certos de que tem que haver um lamentável equívoco da parte do Ministério Público, motivado talvez pelo fato de o bispo Macedo, além de grande líder religioso – portador de grande carisma tal como o Presidente Lula – é também um empresário muito bem sucedido, diferentemente de Lula, é claro – coisa que inevitavelmente desperta a corrosiva inveja de muitos espíritos malsucedidos.

 

Mas uma coisa é o bispo Macedo, chefe da IURD, outra, e bem distinta, é o cidadão Macedo, dono, entre outras coisas, da TV Record. E como sabemos, num país em que há liberdade de culto, não há impedimento legal nenhum de que um empresário abrace esta ou aquela religião; e num país em que há liberdade de expressão, não há tampouco nenhum impedimento que o mesmo empresário faça uso de sua empresa televisiva para a transmissão de programas religiosos de sua religião.

 

Mas daí a dizer que o dinheiro arrecadado nos cultos religiosos foi empregado para comprar um canal de TV e outras empresas associadas ao mesmo, que um império empresarial foi construído com doações de milhões de fiéis, muitos dos quais deram generosamente suas casas, seus carros e outros bens, acreditando que sua doação seria destinada a louváveis fins caritativos, convenhamos que há uma grande distância!

 

Como outros grandes líderes religiosos em todo mundo e em todas as épocas, o bispo Macedo tem sido vítima de uma acirrada perseguição – tão forte como tem sido a perseguição do Presidente Lula movida pela mídia, pelos intelectuais e pelas elites retrógradas deste país, que não desejam uma sociedade justa e igualitária.

 

Em parte, isso é explicável pela inveja e pelo ressentimento. Ambos os grandes líderes são homens do povo, que vieram das camadas mais desfavorecidas da sociedade e subiram na vida graças aos seus inegáveis dotes inatos – Pode-se até falar em dons ofertados por Deus – e graças também aos seus empenho pessoal e determinação inquebrantável.

 

Trata-se aqui daquela chave do sucesso político do Príncipe, segundo Maquiavel: a conjunção de la vertù (não virtude ética, mas sim dianoética) e la fortuna (não a fortuna de quem amealha muito dinheiro, mas sim aquilo que possuía Lucky Luciano).

 

Diante disso, não causa espécie a existência de afinidades entre ambos, não obstante o fato de Lula ter percorrido uma brilhante carreira política e Macedo, uma luminosa trilha religiosa. E não causa tampouco espécie que o partido político do bispo e boa parte da bancada evangélica tenham dado sempre apoio ao PT e a Lula. Que estranheza poderia causar espíritos afins se aproximarem uns dos outros?! Birds of a feather will gather together!

 

Mas a perseguição do bispo é coisa simplesmente inenarrável: muitos acusam-no até de vender terrenos no céu que não possuem registro em cartório, de vender diplomas de salvo-pela-fé com a assinatura de Jesus Cristo, mas sem firma reconhecida – coisas de tal ordem que fazem as indulgências da Igreja Católica de antanho, tão duramente criticadas por Lutero, serem pequenos deslizes da fraqueza da carne reconhecida pelo apóstolo Paulo.

 

Pior do que isso são os gracejos de mau gosto, verdadeiros impropérios circulando anonimamente na Internet, coisas da ordem de “Jesus é o caminho e eu sou o pedágio” e “Templo é dinheiro”, etc. O tempora! O mores!, já dizia o velho Cícero em suas priscas eras

Mas temos a convicção de que tudo isto será devorado pelo tempo que tudo consome e que o bispo Macedo, através de seus dedicados e competentes advogados, provará sua inocência, silenciando, assim, todos os seus acusadores.

 

* Mario Guerreiro, Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.

 

Como citar e referenciar este artigo:
GUERREIRO, Mario. Bispo Macedo é Inocente. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/bispo-macedo-e-inocente/ Acesso em: 28 mar. 2024