Sociedade

Conversas sobre o cotidiano

*João do Nascimento

Objetivo do presente texto é fazer algumas reflexões em torno de questões que permeiam a vida cotidiana do homem simples, do letrado, do religioso, do pai, do filho do amigo, do profissional enfim, de todos aqueles que na sua inquietude ainda não perderam a capacidade de dialogar sobre a própria existência humana e seus valores e virtudes.

É preciso deixar claro que algumas palavras se confundem no dia a dia, tais como fé, esperança e acreditar; digo isto porque é preciso ter graça pra poder sorrir, é preciso regar pra poder florir, é preciso plantar pra poder colher, é preciso ter paz pra poder dormir, é preciso ter esperança pra poder sonhar, é preciso ter vez pra poder falar, enfim é preciso ter um projeto pra realizar é preciso ter alguém pra poder amar.

A fé, a esperança e o simples fato de acreditar, levam o homem a superar suas próprias limitações, sejam elas de caráter pessoal, individual, coletivas, públicas ou privadas, cientificas ou do senso comum, mas uma coisa é certa impulsiona os serem a projetarem metas para suas vidas, suas carreiras, suas famílias, vertem projetos em realidade, colocam em pratica teorias, sonhos, materializando-os.

A figura de Jesus Cristo, digo não a foto, aquilo que traduz a face ou fisionomia dele, suas atitudes cotidianas descrita na Bíblia, livro venerado pelos cristãos; veja bem, Cristo foi uma figura emblemática, era curto e grosso nas palavras e ora justo e modesto com elas.

Cristo fez o homem discutir problemas não só de ordem espiritual, mas também cotidianos que afetavam a estrutura social da época. Em certa passagem bíblica Cristo argumentava com os letrados numa sinagoga e deixou seus pais aflitos com seu sumiço, quando o acharam questionaram porque saiu sem falar e os deixaram preocupados, o menino Cristo responde, não sabes que estava na casa de meu conversando; Maria por mais que soubesse que Jesus Cristo fosse diferente dos demais meninos – José por sinal ficava apreensivo e encabulado com as respostas do menino, pois na cultura da época e até nos dias, tem-se como adequado o filho não ser rebelde nas palavras e responder uma indagação dos pais com certa tranqüilidade que não é vista como afronta. José ficava em duvidas com certas coisas que Cristo falava, até porque os conhecimentos de José não o levavam a ser um homem das letras, mas um simples carpinteiro, mas mesmo assim José era um homem bom e tinha tamanha admiração pelo menino Cristo e cuidava dele com toda a ternura de um pai.

Em outra passagem bíblica, relativa a um Cristo mais maduro e calejado com os problemas sociais, em especial o da Justiça, uma das grandes virtudes humanas, ele presencia uma mulher rameira ou prostituta no conceito atual da palavra, que estava prestes a ser apedrejada por uma multidão de populares.

Para Cristo, assim como foi para Aristóteles – filósofo grego do século V antes de Cristo, e também nos dias atuais, a justiça é uma das grandes virtudes humanas, pois ela permite que o homem se posicione num patamar de atitude menos arbitrária e agressiva perante seus semelhantes numa situação de julgamento de atitudes ou condutas cotidianas.

Voltando a questão da mulher que estava prestes a ser apedrejada sob a acusação de ser prostituta, com base nos costumes da época e que sequer tinha condições de defesa, movido pela virtude completa, a justiça – Cristo agiu imediatamente para evitar que as pessoas movidas pelo preconceito cotidiano promovessem o exercício arbitrário das próprias razões, a justiça com as próprias mãos – e disse Cristo: aquele de vós que não tiver nenhum pecado, que se aproxime e atire a primeira pedra – a multidão se afastou e as pessoas murmuravam no seu intimo que por sinal todos ali era pecadores e ninguém teve a ousadia de apedrejar a mulher e Cristo na sua infinita cortesia, levantou a mulher que estava encolhida no chão e pronunciou – vá em paz e não peques mais. Esta passagem é interessante para traduzir a concepção de justiça – que naquele momento foi impedir um crime, uma injustiça perpetrada por pessoas do povo destituídas do poder ou da atribuição de julgar, e o próprio Cristo sabia que a prostituição era uma prática recorrente naquela sociedade, e porque seria e não justo apedrejar aquela mulher por um desvio de conduta daquela sociedade.

A justiça não é um órgão do poder judiciário como o senso comum acredita – é uma virtude própria do homem, já está intimo do ser, é aperfeiçoada com os valores familiares, sociais e profissionais, mas está lá no intimo do ser esperando para ser despertada.

Grandes personalidades pensaram e discutiram a justiça enquanto virtude completa que o homem carrega nas profundezas de seu âmago, dentre eles podemos citar o Aristóteles que disse: “vemos que todos os homens entendem por justiça aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que as faz agir justamente e desejar o que é justo; e do mesmo modo, por injustiça se entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto.” – Ética a Nicomâco, Livro V.

Rui Barbosa na sua simplicidade de grande orador expressou: “A injustiça, senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade […] promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.” 

Mahatma Ghandi também ressaltou “Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, então a injustiça é minha.”

Percebe-se nos que atualmente o homem está deixando morrer a virtude completa que existe no dentro de si, está perdendo sua humanidade sua capacidade de discutir seus anseios e angustias, muitas vezes prefere a fuga do agir justamente e desejar o que é justo, conforme pretendeu Aristóteles, para assim abster-se de enfrentar e discutir os problemas – homens resolvem problemas como homens dialogando e buscando soluções para os problemas e não como meninos que se prestam a chorar quando uma situação difícil os colocam em prova para testá-los e fazê-los amadurecer.

Outras vezes, ocorre o que Rui Barbosa disse se permitirmos que a injustiça ocorra, ela certamente irá desanimar o trabalho, sufocar o esforço, ofuscar a honestidade, corromper o bem, destruir o caráter e semear no coração das gerações que vêm nascendo a semente do mal, da podridão, os valores distorcidos e perversos e todos os devaneios que habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna fácil, no acaso, na loteria da sorte, que promove a desonestidade e retira as expectativas humanas em relação a fé, a acreditar e ter esperança num amanhã que em que os bons valores e virtudes sejam aperfeiçoados ou pelo menos mantidos no seu status quo, na sua zona de conforto.

E também não podemos esquecer-nos dos esforços do jovem advogado indiano, Ghandi, quando disse que se alguém age com injustiça ou contra a justiça e eu na minha imensa capacidade de agir permito que se pratique tal infâmia, tal ato leviano, a injustiça é minha, porque quando os homens de bem se calam, o mal reina e eles se tornam integrantes da maldade.

Portanto, devemos agir sempre com justiça, segundo a máxima de tratamento pautado no respeito e na ética (fazer o certo sem precisar estar sendo vigiado), tratando as pessoas de forma justa, daquela mesma forma que as pessoas esperam ser tratadas.

É preciso que a chama da ética, justiça e moralidade seja uma prática, um hábito, permitindo que se não se ensine pelo exemplo se inspire outras pessoas a ter a mesma conduta, pois existe um pensamento de Benjamin Franklin que diz: “Diga-me eu esquecerei, ensina-me e eu lembrarei, envolva-me e eu aprenderei”. Está frase é inspiração para que as pessoas aprendam, participem se sintam parte de um contexto, enfim sejam respeitadas; pois ninguém se interessa por algo que não se sente parte, isto é bastante visível nos estabelecimentos de ensinos e nas organizações onde se estabelecem metas a serem cumpridas e que sequer que vai cumpri-las sabe o porquê daquilo.

Em algumas das minhas introspecções, que seriam nada mais que o indivíduo voltar para seu interior, refletir sobre idéias, criar e fazer florir a dúvida, aquela presente no “Cogito de René Descartes – penso, logo existo”, para levar a outro pensamento que é quando penso reflito exercito meu cérebro, faço indagações que na correria do cotidiano, principalmente das pessoas mais desprovidas de esclarecimentos, de informações puras e simples, mas de efetivo esclarecimento, aquele tipo de circunstância que eleva o espírito crítico, a percepção para discutir os nossos problemas. O povo alemão, em especial o sociólogo Max Weber (1864 – 1920) e o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), discutiram problemas que inquietam os seres humanos até atualidade.

Nietzsche dizia que odiava e submissão a qualquer tipo de doutrina, para ele prega o controle, a submissão humana, pois tudo isso oprime o homem, cerceia o potencial criador, ele adotou a terminologia vontade de potência – sentimento deturpado que levou a Alemanha a Primeira e a Segunda guerra mundial, que nada mais é do que a crença no potencial humano, na capacidade que o homem possui para resolver as questões postas ou que ele próprio deu causa; para muitos o filosofo Nietzsche era um libertino, um utópico, um rebelde sem causa focada na realidade de sua época, mas o pensamento de Nietzsche impulsiona e inspira o homem a responder questões do cotidiano. Ele enfatizava que o homem deve cultivar deve cultivar a vontade de potência, pois ela liberta e projeta um espírito livre, e como se percebe o mundo atual carece de homens verdadeiramente livres para discutir os problemas, sem estar focados nos desejos pessoais e nos objetivos organizacionais.

Na vida existem questões que são centrais para que as pessoas se sintam bem, tais como o sentimento de justiça, a prática do bem, pertencer a uma família, ter um trabalho que lhe permita ser útil ao contexto social, afinal ninguém quer muletas para se apoiar, a não ser que tenha alguma necessidade que a impede de caminhar com as próprias pernas; as pessoas não querem carregar o mundo e nem que o mundo as carregue, anseiam em dar sua contribuição conforme sua capacidade, afinal ninguém passa pelo mundo em vão, nada é por acaso, tudo tem um propósito, ninguém planta morangos e colhe abacaxi, tudo é fruto do esforço pessoal e da ajuda e cumplicidade dos amigos, ora, todos precisam de amigos, são como cobertores em tempos de inverno, pois nos confortam e amparam nos momentos difíceis.

Para fechar nossas conversas sobre o cotidiano vamos retratar duas situações, uma é um vídeo presente nas redes sociais, em que o autor faz algumas reflexões importantes para a atualidade, vou intitulado de “A realidade de hoje”, disponível em:  https://espacocaminhodeascensao.com.br/realidade-de-hoje/ e em vídeo no endereço https://www.youtube.com/watch?v=5sTV8f0QzD4, o outro é o discurso feito pelo ator o ator Denzel Washington em 9 de maio de 2015 durante a formatura de 247 estudantes da Universidade Dillard, em Nova Orleans, nos Estados Unidos. Vídeo dublado disponível em:  https://www.youtube.com/watch?v=vzmLRAUwJ6o e legendado disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MXQLoubNytI.

No texto “A realidade de hoje o autor procura fazer reflexões em das coisas supérfluas e materiais que os seres humanos se preocupam em detrimento daquilo que realmente interessa que é boa convivência familiar e com os amigos, a paz de espírito e a comunhão com o Deus, principalmente em relação as virtudes e valores humanos, tanto o é que em algumas passagens ressalta que mesmo diante do avanço da ciência tem problemas no campo social, em especial o da saúde, não convive com os vizinhos e está perdendo sua humanidade.

Vejam que interessante o que o autor diz “Casas grandes, pequenas famílias. Mais diplomas, menos senso comum. Medicina avançada, saúde precária. Conhece o mundo, desconhece os vizinhos. Alto rendimento, menos paz de Espírito. Muito conhecimento, menos tempo para amar. Tantos amigos virtuais, sem tempo para o amigo real. Muitos humanos, menos humanidade. Relógios caros e sem tempo pra nada! Volte a valorizar o que realmente tem valor. Olhe e veja o que realmente é belo. Tenha tempo de qualidade com Deus, com você mesmo, com sua família e com amigos, pois a vida passa…Ela é apenas um sopro! Pense nisso…” Autor desconhecido

No texto traduzido extraído do endereço eletrônico https://pt.aleteia.org/2015/05/27/denzel-washington-a-uma-turma-de-formandos-coloquem-deus-em-primeiro-lugar/ e segue alguns trechos, o ator dá 3 conselhos durante uma cerimônia de graduação universitária na formatura de 247 estudantes da Universidade Dillard, em Nova Orleans, nos Estados Unidos, contou neste ano com um orador bastante especial: o ator Denzel Washington.

Seu discurso, em proferido em 9 de maio de 2015, chamou a atenção pela referência constante a Deus, a quem o artista pediu que os formandos coloquem à frente de tudo, de todos os objetivos.

“Número um: coloquem Deus em primeiro lugar“, aconselhou que os jovens “Coloquem Deus em primeiro lugar em tudo o que vocês fizerem. Tudo o que eu tenho é pela graça de Deus. É um presente”, disse Denzel Washington.

“Eu mantive Deus na minha vida e isto me manteve humilde. Nem sempre fiquei do lado dele, mas Ele sempre ficou do meu lado. Fiquem perto de Deus em tudo o que vocês fizerem. Se vocês pensam em fazer o que vocês acham que eu fiz, então façam o que eu fiz: fiquem perto de Deus“.

Denzel Washington ofereceu mais dois conselhos aos novos graduados.

“Número dois: vocês só vivem uma vez; portanto, façam o que os apaixona, aproveitem as oportunidades profissionais, não tenham medo de falhar. Não tenham medo de romper os esquemas, não tenham medo de pensar fora da caixa, (…) de sonhar grande. Mas lembrem-se: os sonhos sem objetivos são apenas sonhos e, no fim das contas, levam à decepção. Tenham sonhos, mas também tenham objetivos, objetivos de vida, (…) objetivos mensais, objetivos diários. Eu tento traçar objetivos para mim todos os dias”.

Denzel afirmou que é preciso ter “disciplina e coerência” para alcançar esses objetivos. “Trabalhar dá resultado. Trabalhar duro é o que torna as pessoas bem-sucedidas. Mas lembrem-se de que fazer muito não significa que vocês vão ter muito”.

O terceiro conselho foi justamente o de tomar cuidado para não se apegar às coisas materiais.

“Não importa quanto dinheiro vocês vão ter: vocês não vão poder levá-lo consigo (…) Não importa tanto o que vocês têm, mas o que vocês fazem com aquilo que têm”.

O ator arrematou:

“A coisa mais egoísta que vocês podem fazer neste mundo é ajudar alguém por causa da sensação boa que isso dá a vocês mesmos”.

Em outras trechos que podem ser observados no vídeo, cujos endereços para acesso foram citados durante o texto, o ator Denzel Washington, destaca para os jovens que é preciso ter sonhos, eles são necessários para atingir metas, e que preciso ter foco no se propõe a fazer pois quem segue vários caminhos, se perde e não sabe onde quer chegar.

Tanto o texto “a realidade de hoje”, quanto o discurso de Denzel Washington faz referência ao que descrevemos no inicio de nossas conversas sobre o cotidiano as palavras fé, esperança e acreditar que com ética, justiça e solidariedade aos anseios dos outros pode contribuir para um mundo melhor. Dizem que é importante o homem acreditar, ter fé, colocar Deus como impulso de seus projetos e soluções de sua vida cotidiana, pois uma vida sem fé sem acreditar é uma vida sem sonhos, sem utopia, e porque falei de utopia… pra que ser a utopia, ela nos mantém caminhando perseguindo nossos objetivos e a fé a esperança são combustível que alimentam a vontade humana para que projetos sejam realizados, valores cultivados, justiça seja feita e a convivência entre os povos seja efetivamente pacifica.

*João do Nascimento

Bacharel em Direito, com pós-graduação em docência do ensino superior, História da Ciência, História e cultura mineira e historiador; e autor de diversos artigos em diversas especialidades do Direito e Sociologia.

Como citar e referenciar este artigo:
NASCIMENTO, João do. Conversas sobre o cotidiano. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2018. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/conversas-sobre-o-cotidiano/ Acesso em: 25 abr. 2024