Sociedade

Vergonha de ser honesto?

Vergonha de ser honesto?

 

 

Ana Echevenguá*

 

 

Seu Zé Tenório ta indignado. De saco cheio com tanto pagamento, tanta despesa… Nem sabe mais se é bom ter seu próprio negócio nesse país.

 

Ele mora no interiorzão de Santa Catarina; tem uma agropecuária há uns 10 anos… uma lojinha boa, na frente da pracinha da igreja.  Trabalha de sol a sol, sem feriado, sem descanso porque ele precisa manter a sua clientela satisfeita. Vende uns produtos bons pro homem do campo; com preço justo…

 

Seu Zé paga todos os impostos em dia; guarda todos os recibos na gaveta porque não quer incomodação com os fiscais. Desde que o conselho de medicina veterinária, que fica na capital, mandou uma cartinha pra ele se registrar e recolher umas taxas, ele se registrou e pagou. Nem perguntou o porquê. O Conselho também mandou ele contratar um veterinário (que ele não sabe pra quê porque o doutor nem aparece na loja), e ele contratou. A papelada ta na gaveta: o fiscal gosta muito de ver papel disso, papel daquilo. 

 

Mas, seu Zé percebeu que a clientela escasseou. E ficou sabendo que eles agora tão comprando numa agropecuária da cidade vizinha que tá vendendo os  mesmos produtos que ele vende com preço menor. Ela pode fazer porque reduziu os custos do negócio: agora ela não precisa mais pagar o Conselho nem gastar com o veterinário. O dono foi procurar seus direitos e descobriu que tavam cobrando tudo errado. Bem que seu Zé tava desconfiado disso. Também pudera: nunca recebeu nada daquele povo da capital além dos carnês pra pagar no banco. 

 

Que indignação! Que raiva dessa enganação toda!

 

 E a raiva aumentou quando seu Zé foi fazer as contas do prejuízo. 10 anos pagando:

– a  tal da anuidade de R$800,00 pro conselho dá uns R$8.000,00;

 

– um salário mínimo por mês pro veterinário: 120 meses (12 meses X 10 anos) X 465,00 = R$ 55.800,00.

 

Nossa! Quase R$65.000,00! Dava pra comprar uma casinha na praia, ou um carro novo… aquele Civic igual que o prefeito tem!

 

A história se repete… Assim como o seu Zé Tenório, muitos brasileiros são tratados como otários. Mas não desanime, não tenha vergonha de ser honesto! Procure seus direitos já!

 

 

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus. O homem chega a desanimar-se da virtude, a rir da honra, e ter vergonha de ser honesto“. Rui Barbosa

 

 

 

* Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente da ong Ambiental Acqua Bios e da Academia Livre das Águas, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br

 

 

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Como citar e referenciar este artigo:
ECHEVENGUÁ, Ana. Vergonha de ser honesto?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/vergonha-de-ser-honesto/ Acesso em: 29 mar. 2024