Sociedade

Nasceu um menino que era pobre e nem sabia…

Nasceu um menino que era pobre e nem sabia…

 

 

Moacir Leopoldo Haeser*

 

 

Nasceu um menino que era pobre e nem sabia… porque era feliz. Os esportes e as aventuras da infância com os irmãos e os amigos tomavam quase todo o seu tempo: futebol no Campo do Pedro Rathke, orgulhosamente jogar no Time Infantil do Clube Brasil, soltar pandorga, pescar lambari e jundiá no Arroio Laranjeira, mergulhar no Rio Pardo, fazer jangada de bananeiras e construir canoa para navegar no Poço Sapatiano, escalar o Botucaraí… Mas também bater o sino na igrejinha e ajudar a missa do Padre Pritsch.

 

 

Fome? Ariticum, sete-capote, araçá, goiaba, pixirica, pitinga, guabirova, cereja, pitanga, pinhão, bergamota… Sabia onde ficavam todas as árvores e as épocas certas. Quando não era época de nada sempre se achava uma cana fina… ou se mastigava cevada, trigo ou boneca nova de milho (a palha é doce e tenra). A vó Jensen sempre tinha uma pão de milho com schmier de cana e keeschmier para a gurizada.

 

O trabalho era normal na sua meninice… Ajudar os pais, os avós, trabalhar na roça, entregar leite, colher folhas e com a mãe fazer flores – coroas para os finados – armar bolão, mas estudar, estudar… é preciso ler muito, sempre dizia Dona Zenith…

 

O Grupo Escolar Guia Lopes… A sopa de Dona Neca, Dona Lurdes, Dona Edith, Tio Protásio… ler gibi, Tarzan, Fantasma, Pato Donald, Seleções, Almanaque de Remédios, tudo… trabalhar, brincar, estudar…(quem não estudar vai ter que trabalhar de cubeiro, dizia o Libinho)… pescar…

 

O Ginásio Medianeira, Irmã Angelita, Madre Victorette …Cantar no Matinal Princesa, declamar no Programa do Edilo, dançar na Invernada Mirim do CTG e Cantar no Coro da Igreja…cobrar mensalidades de clubes, caixeiro de bodega, ler, apreender sozinho a escrever à máquina, conversar com os adultos, aprender… livros do Tio Othma, do Tio Lori, da Tia Vally, da Tia Ilca, do Rui Lenz… auxiliar de escritório, o Curso de Contabilidade (o que não valeu e o outro, hoje pujante Escola Comercial), ler todos os livros da Biblioteca da Prefeitura, a seriedade e responsabilidade do Bealcino, do Beckinha e do Ary no Escritório, bancário (do Unibanco e Banco do Brasil), aprender a vencer a inibição na campanha política, a Faculdade de Direito – viagem diária a Santa Cruz -, depois Juiz Adjunto, Juiz de Direito, Juiz de Alçada, Desembargador… Trabalho, muito trabalho, muita responsabilidade, mas realização em cada sentença, em cada etapa cumprida.

 

Já vão tão longe no tempo, essas lembranças, mas tudo parece que ainda foi ontem. O Moacir Danilo e o Ari Darci no Ginásio… Tantos amigos, tantos colegas, tantas coisas, tantos lugares… uns e outros que já não existem mais…

 

Pequena e hospitaleira Candelária, dos contrastes entre a Colônia e o Campo, do povo bom e amigo, onde tanto e com tantos aprendi… Hoje, quando volto, te vejo quase metrópole, a fervilhar de vida, mas sempre a mesma simplicidade e simpatia de teu povo… em cada lugar, em cada pessoa, uma lembrança…

 

De minha janela te vejo ao longe todos os dias… a pujança de teu Botucaraí… sinalizando tempo bom ou chuva, mas especialmente a segurança de que estás sempre ali!

 

Se neste dia de teu aniversário estas palavras puderem levar a algum de teus filhos um pouco de alento e de esperança, um pouco de confiança… de que se pode alcançar o sonho…o presente será meu!

 

 

* Desembargador aposentado e advogado

 

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Como citar e referenciar este artigo:
HAESER, Moacir Leopoldo. Nasceu um menino que era pobre e nem sabia…. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/nasceu-um-menino-que-era-pobre-e-nem-sabia/ Acesso em: 25 abr. 2024