A morte em um acidente de trânsito ocorrido no domingo passado, dia 04 de dezembro de 2011, às margens da rodovia SC 401, Florianópolis-SC, traz à tona
mais uma das tantas hipocrisias da Ilha da Magia.
Trata-se da rodovia estadual mais movimentada de SC porque liga o norte de Floripa ao resto do mundo.
Desde o início das obras, nos dois trechos da SC-401, os mais de 40 mil motoristas (que por ela trafegam diariamente) experimentaram congestionamentos
e vários acidentes. Importante ressaltar que este número de motoristas é triplicado na temporada de verão.
Bom: construíram mais duas pistas, uma ponte, um elevado, fizeram alguma sinalização; mas esqueceram dos cuidados necessários ao pedestre que também
usa essa via.
Pedestre circulando numa rodovia estadual? Sim. Trabalhadores, moradores, estudantes das mais variadas faixas etárias, … cada dia, há mais empresas e
residências ao longo da SC 401. E, em decorrência, várias paradas de ônibus. Alguns são usados até como ponto de prostituição e de venda de droga…
E o usuário do transporte coletivo, ao usar o ônibus, precisa, ou no ‘ida’ ou no ‘volta’, atravessar a rodovia.
Claro que os projetistas, executores – tanto da rodovia como da sua ampliação – deveriam ter previsto passarelas, semáforos, faixas de segurança…
pensando na sobrevivência dos pedestres que se obrigam ao uso da SC 401.
Mas isso não aconteceu. E Kamila – uma menina de dezenove anos – morreu, numa noite de domingo, ao tentar atravessar a rodovia.
Parece que seu pai a esperava do outro lado da pista, para levá-la pra casa. E, ao ouvir alguns moradores do norte da ilha, soube que é corriqueiro os
pais levarem e esperarem por seus filhos ao longo da SC 401. “Eles atravessam correndo, param no meio da ‘SC’ se vier carro do outro lado, depois
atravessam correndo a outra pista”.
Haja prudência e perícia para os condutores dos veículos!
Encontrei no periódico ‘Imagem da Ilha’, de março de 2011, uma reportagem de Gabriela Morateli a respeito do assunto; “Um leque de estabelecimentos
comerciais ao longo da SC-401, Norte da Ilha, vem crescendo e com eles surge a necessidade de um maior número de passagens seguras para os pedestres.
Além do comércio, o aumento populacional na região também justifica a construção de mais passarelas. As quatro existentes ao longo da rodovia nos seus
mais de 20km de extensão não suprem a demanda, já que alguns trechos bastante urbanizados não contam com este equipamento urbano. Por isso, os
pedestres acabam se expondo ao perigo, atravessando a rodovia em meio ao vai e vem dos veículos, que é constante”.
Gabriela ouviu o DEINFRA – Departamento Estadual de Infraestrutura. E soube “não há planos para a construção de novas passarelas na SC-401, mesmo com
as obras da duplicação do seu trecho final. O que será realizado em breve é a substituição da passarela da Vargem Pequena por um viaduto, que além das
pistas para veículos prevê espaço para ciclistas e pedestres” – http://www.imagemdailha.com.br/noticias_detalhes.php?id=527&cat=5
Essa é a proposta de mobilidade para a Ilha da Magia e para tantas outras cidades do Brasil.
Na minha cabeça, que não havia se antenado para esse problema tão sério, lateja a pergunta: Quantas Kamilas precisarão morrer para que os pedestres
ganhem a segurança necessária ao longo da SC 401?
* Ana Candida Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente da Academia Livre das Águas, email:
ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br.