Sociedade

Contra a crise, visão de futuro e mão firme

Contra a crise, visão de futuro e mão firme

 

Leonardo Reis*

 

Até ontem o Brasil era uma lenda internacional, com a (real) história do gigante adormecido. Depois de um período de acelerado e insustentado crescimento, viu-se superar por índices mastodônicos de Rússia, Índia, China e outros países emergentes de menor destaque. Com novo comando, visionário, nosso país passou a incluir na sociedade para crescer mais e, assim, passamos à frente e fomos promovidos de lenda a gigante acordado – e essa é uma opinião não minha, mas de economistas e estadistas ao redor do globo.

 

            Finalmente temos uma séria política de ampliação dos investimentos públicos, em parceria com a iniciativa privada, para garantir infra-estrutura para o crescimento (energia, ferrovia, estradas, portos). Não bastasse isso, a geração de empregos é recorde e já ultrapassamos, contando como início o ano de 2003, mais de 10 milhões de novos postos de trabalho. Há ainda a expansão da renda do trabalhador, indicadores estatísticos denunciando queda na desigualdade social e uma fortíssima ascensão de pobres e miseráveis às classes B e C.

 

            Cenário lindo. Tendia ao perfeito. Mas aí veio a mão podre do mercado, comandada pela cabeça vazia de governos estrangeiros e estudiosos que faltam à aula e o mundo passa a ser diuturnamente sacudido pela maior crise financeira em um século. Em economia globalizada, é óbvio que não passaríamos incólumes ao dragão; o discutível é se ele vai rugir ou soltar fogo, mas essa é avaliação para um outro escrito.

 

            Não é de hoje que os movimentos sociais, os partidos progressistas de esquerda, alertam que o mercado não deve ficar solto, sem freios. Comparo o mercado a uma gangue: cheio de gente em que não se deve confiar, marginais que fazem de tudo para tirar um tanto a mais de vantagem, sem escrúpulos e de visão extremamente estreita. Como toda gangue, deve ser vigiada pelo Estado – e como toda gangue, reclama independência para poder barbarizar por aí, ou seja, aquele velho exercício de dialética.

 

            Pois bem, lá nos Estados Unidos deixaram o mercado solto. Aproveitando os juros baixos, em 2001 os norte-americanos resolvem brincar de “troco na troca” refinanciando seus imóveis a preços acima do mercado e sobrando dinheiro no bolso. Em 2005 essa brincadeira começou a virar coisa de adulto, quando os valores das casas assumiram cifras absurdamente irreais e o tal do mercado se deu conta de que, olhando bem de pertinho, não valiam tudo aquilo.

 

            Com mais dinheiro para gastar, a inflação ameaçou dar galopes e os juros, numa reação desproporcional do governo dos Estados Unidos – o padrinho dessa brincadeira estúpida -, explodiram. Os preços das casas voltaram ao seu patamar razoável, a população se recebeu a conta de sua farra.

 

            Com menos recursos, as famílias passaram a consumir menos e a deixar de pagar suas dívidas com os bancos e as financiadoras de imóveis. Aí teve início uma quebradeira sem precedentes, com prejuízos estimados pelo Fundo Monetário Internacional em mais de US$ 1 trilhão.

 

            Mas e aqui? Os efeitos que teremos no Brasil, sem nenhum temor de cometer injustiças ou me enganar, são de responsabilidade de uma política neoliberal encabeçada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e fiada por legendas regressistas como o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), Partido da Frente Liberal (PFL) e Partido Popular Socialista (PPS). Foi a agenda de privatizações, desregulações e enfraquecimento do papel do Estado que nos deixam, em certa medida, vulneráveis à tormenta; mas a população sabe disso e é por isso que os três caminham tentando apagar vestígios de sua funesta herança.

 

            Hoje, a onda que nos atingir será mínima. Por aqui, o prejuízo é mais resultado de uma psicologia conturbada do que prático. Os bancos brasileiros não mantêm um volume nem ao menos respeitável de títulos e investimentos em bancos americanos, mas passam a restringir o crédito e elevar os juros com medo de que, um passo à frente, lhes falte recurso. Na mesma linha vão algumas famílias atentas ao noticiário que passam a adiar a compra daquele carro novo ou a viagem de férias. Quem cede aos apelos dos “cavaleiros da hecatombe” dá um tiro no próprio pé.

 

            Por isso fazem muito sentido as repetidas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o brasileiro “não deve deixar de consumir sob risco de perder o próprio emprego” porque comprando menos, indústria e comércio vendem menos. Se vendem menos, precisam produzir menos e cortar gastos para compensar a falta de fluidez do produto no estágio anterior. Se produzem menos, precisam de menos gente. Se precisam de menos gente, mais desemprego e menos consumo e se agrava um ciclo de vícios.

 

            Sob essa mesma ótica, não faz o menor sentido o Estado conter suas despesas, afinal ele é o maior gerador de demanda. Os investimentos devem ser, no mínimo, mantidos ainda que a arrecadação tributária sofra alguma retração. Isso manterá algum nível de produção e empregos e, depois de algum tempo vendo que sua estabilidade se manteve, as famílias voltarão a consumir. Da mesma forma, é impensável aumentar o superávit primário porque isso vai enxugar a economia.

 

            Para acalmar a histeria do mercado, queda dos juros e redução dos depósitos compulsórios. Em uma situação normal isso tenderia a pressionar a inflação, mas hoje servirá como um contrapeso à “secura” por financiamento. E se acontecer como as instituições financeiras nacionais vêm fazendo hoje, não irrigando a economia? Estatização do crédito. O governo passa a conceder, através do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, empréstimos.

 

            Essa última medida é mais polêmica e, até certo ponto, radical. Geraria reações negativas de toda espécie em setores daquela oposição desmoralizada que nós já conhecemos, na mídia e na Federação das Indústrias de São Paulo. Mas eu pergunto se ainda há alguém estúpido e subintelectualizado o suficiente para dar ouvidos aos progenitores tupiniquins de todo o reboliço?

 

            Tomando decisões certeiras e corajosas, com visão de futuro e pulso firme, espantaremos o ectoplasma da recessão e permaneceremos no nosso processo de vigoroso crescimento e desenvolvimento social.

 

* Graduando em Administração de Serviços Públicos na Universidade do Estado de Santa Catarina. Secretário de Juventude e Comissário de Ética do PT de Florianópolis. Conselheiro de Ética e Administração da Federação Nacional dos Estudantes de Administração Pública. Em 8 de dezembro de 2008.

 

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Como citar e referenciar este artigo:
REIS, Leonardo. Contra a crise, visão de futuro e mão firme. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/contra-a-crise-visao-de-futuro-e-mao-firme/ Acesso em: 18 abr. 2024