Sociedade

Sem Idealismo a Vida é um Jardim de Flores de Papel

Havia um jovem que
iniciou seus estudos numa famosa Faculdade de Direito, concluindo-os com
brilhantismo.

Depois iniciou sua
carreira como operador do Direito colhendo muitos louros pela sua capacidade extraordinária
de argumentação, oratória e carisma pessoal.

Todos que conviviam
com ele sentiam o impulso espontâneo de homenageá-lo pelos seus reais méritos.

Renunciava
freqüentemente à sua vida particular com a esposa e os filhos para atender aos
constantes convites para conferências, jantares, reuniões, lançamentos, viagens
etc.

Aposentou-se
relativamente novo sem que seus amigos e admiradores conseguissem entender o
porquê da interrupção de uma trajetória tão bem-sucedida.

Tornou-se depressivo
e perdeu gradativamente todo o destaque que tinha feito tanto esforço para
granjear.

Certo dia
reencontrei-o e ele desabafou comigo sua decepção, afirmando-me que quase tudo
que tinha feito e vivido até então se resumia ao incensamento da sua vaidade
insaciável, o que lhe provocava um vazio interior sem cura.

Aconselhei-o a fazer
alguma coisa que preenchesse esse vazio e acabou retornando a uma atividade
jurídica onde incentivava as pessoas à conciliação.

Recobrou, em pouco
tempo, seu brilhantismo e está em plena atividade, parecendo um jovem
entusiasta, apesar dos cabelos encanecidos.

Esse exemplo real
mostra a necessidade que todas as pessoas sensíveis têm de desempenhar uma
atividade verdadeiramente útil acima e além das disputas acirradas pelo sucesso
profissional.

“Não só de pão vive o
homem”, mas também da necessidade de ser útil.

Não há que se
confundir conciliação com pusilanimidade e contemporização com a desonestidade
e os abusos, todavia a pacificação é propiciadora da saúde social e da saúde
individual, do progresso e da felicidade.

Aquele brilhante
operador do Direito ainda não tinha sido realmente útil para a coletividade,
pois apenas tinha colecionado título, medalhas e honrarias, mas sua consciência
lhe cobrava uma atuação em favor das pessoas em si.

Quando resolveu-se
por completar-se com o que lhe faltava, fez-se um ser humano muito mais
brilhante do que tinha sido até então.

Fico entendendo com
esse exemplo que, acima de tudo, somos seres humanos e precisamos realizar o
ciclo obrigatório de nos transformarmos de crianças e jovens sustentados e
orientados pelos nossos pais em adultos provedores e orientadores dos nossos
filhos e netos e colaboradores da melhoria do mundo onde vivemos.

*
Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).

Como citar e referenciar este artigo:
MARQUES, Luiz Guilherme. Sem Idealismo a Vida é um Jardim de Flores de Papel. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/sem-idealismo-a-vida-e-um-jardim-de-flores-de-papel/ Acesso em: 28 mar. 2024