Judiciário

Os Conselhos de Arbitragem Representam Ameaça ao Judiciário?

 

Não faz muito tempo que, no nosso país, o trabalho era aviltado pelo desequilíbrio de forças entre o patrão e o empregado, aquele primeiro que pagava ao segundo o que melhor entendia, quando muitos trabalhadores recebiam uma remuneração, de fato, apenas o suficiente para não morrer de fome…

 

Infelizmente, esse quadro lastimável ainda perdura em regiões inóspitas do território nacional, apelidado de “trabalho escravo”.

 

A concessão de determinados benefícios aos trabalhadores (e até aos desempregados) tem irritado muitos patrões grandes e pequenos, que entendem que aqueles que não nasceram bafejados pela fortuna têm de trabalhar e trabalhar, sem questionar e ainda viver recitando agradecimentos a quem lhes dá a oportunidade de sobreviver.

 

Os tempos mudaram.

 

Em certos aspectos, passou-se ao extremo oposto. Muitos empresários grandes e pequenos se sentem na conjuntura desconfortável de depender dos trabalhadores para que não se encerrem suas atividades produtivas. É o que vem acontecendo, por exemplo, na zona rural.

 

É necessário que abramos a cabeça e o coração para compreendermos que nossos empregados são cidadãos, que carecem das mesmas coisas que nós, ou sejam, instrução, lazer, repouso etc. etc.

 

A cidadania – inalienável direito de cada pessoa – tem de ser valorizada.

 

Não há cidadãos de primeira, segunda e terceira classe. Todos são cidadãos do mesmo nível, mesmo quando uns são pobres e outros ricos, uns instruídos e outros analfabetos, uns destacados socialmente e outros colocados nos mais humildes postos…

 

É tempo de entendermos que ninguém pode ser colocado em situação inferior a um mínimo em que possa pelo menos viver em condições de crescer.

 

Até quem não trabalha por preguiça é cidadão e não perde seus direitos de cidadania por isso.

 

Temos de organizar nossa sociedade de tal forma que ninguém morra de fome, mesmo aqueles não se dispõem a uma atividade produtiva.

 

Sem a realização da Justiça Social não podemos dizer que somos um país civilizado, mas sim que estamos vivendo a realidade ultrapassada da Europa da Revolução Industrial, ou seja, pelo final do século XVIII.

 

Quem não trabalha tem de morrer de fome?

 

Até por interesse em mantermos nossas vantagens, mudemos nossa realidade para que os esfaimados não nos assaltem, seqüestrem e agridam nas ruas e invadam nossas casas, apesar das cercas eletrificadas e dos seguranças armados.

 

 

* Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).

Como citar e referenciar este artigo:
MARQUES, Luiz Guilherme. Os Conselhos de Arbitragem Representam Ameaça ao Judiciário?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/judiciario/os-conselhos-de-arbitragem-representam-ameaca-ao-judiciario/ Acesso em: 25 abr. 2024