Judiciário

Ou o Judiciário se Moderniza ou Será Substituído por Outras Idéias Mais Modernas

 

DARCY RIBEIRO foi uma das mais importantes referências para conhecermos, em profundidade, nosso país e nosso povo. Mistura intensa de brancos, negros e indígenas, formamos diversas coletividades diferentes onde prevalece a desigualdade social, vivendo a imensa maioria inconformada com esse estado de coisas.

 

Para os operadores do Direito é imprescindível aprofundar esses estudos. Vivendo num país de dimensões continentais, a tendência é não tomarmos ciência das realidades distantes do nosso dia-a-dia.

 

Não devemos ser meros burocratizados executores de leis e jurisprudências através de um trabalho mecanizado equiparável aos despachantes de emplacamentos de veículos…

 

Observando o pensamento dos brasileiros em geral sobre a questão da honestidade, vemos que a maioria não crê na honestidade dos outros nem pretende manter-se firme na sua própria…

 

Os escândalos políticos e financeiros incentivam a busca dos objetivos pessoais num verdadeiro “vale-tudo” latente no psiquismo da maioria dos cidadãos comuns.

 

As próprias oscilações do Direito, muitas vezes, lançam-nos no descrédito. Determinados julgamentos polêmicos induzem as partes ao entendimento de que a Justiça favorece os ricos e poderosos…

 

Como exemplos podemos citar a prevalência das candidaturas dos “fichas-sujas”, a fragilidade da Justiça em exigir do Executivo e Legislativo a abolição do nepotismo, a não-aplicação total do CDC às instituições financeiras etc.

 

Além disso, o distanciamento que muitos de nós mantém em relação ao problema grave da desigualdade social fere de morte a crença popular no nosso idealismo.

 

Devemos conscientizarmo-nos de que vivemos num país onde a miserabilidade é evidente, debitável à frieza das elites, das quais fazemos parte.

 

Por isso, temos o dever inalienável de trabalhar pela elevação das condições de vida dos cidadãos que nascem, vivem e morrem sem chance de uma vida pelo menos razoável.

 

Ao invés de falarmos apenas em mais benefícios e garantias (que já as temos em quantidade e qualidade suficientes, se levarmos em conta a pobreza da imensa maioria), devemos atuar sobre os focos das desigualdades.

 

Na própria comunidade onde vivemos há muito o que fazer, a começar pelo atendimento público de boa-vontade e sem exigências retrógradas de reverência endeusadora de nossas pessoas. É o mínimo que podemos fazer.

 

E, quanto à questão da honestidade, evitarmos de nos envolver em atividades paralelas de cunho lucrativo…

 

Somos responsáveis inclusive pelas imagens que criamos na mente das pessoas por nossas ações e omissões…

 

 

* Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).

Como citar e referenciar este artigo:
MARQUES, Luiz Guilherme. Ou o Judiciário se Moderniza ou Será Substituído por Outras Idéias Mais Modernas. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/judiciario/ou-o-judiciario-se-moderniza-ou-sera-substituido-por-outras-ideias-mais-modernas/ Acesso em: 28 mar. 2024