Estudiosos da Antropologia e ciências afins dizem que o desabrochar da inteligência humana no planeta ocorreu apenas há mais ou menos 10.000 anos atrás. Essa seria uma explicação para o fato do ser humano ser mais primário do que superior, mais instintivo do que inteligente, mais agressivo do que pacífico, mais anti-ético do que ético etc.
Afirma a Fisiologia que os instintos básicos são: comer, dormir e fazer sexo.
Segundo a avaliação dos cientistas do ramo, cerca de 80% da humanidade sente-se realizada mais com essas atividades fisiológicas do que com as atividades que envolvem a inteligência, a razão e o discernimento.
São dados altamente preocupantes para os operadores do Direito, cuja missão é solucionar os desacertos entre pessoas, os conflitos sociais…
E nós, pelo simples fato de sermos operadores do Direito, não estamos acima das demais pessoas. Sofremos das mesmas carências intelectuais e morais que caracterizam os grupamentos humanos.
Prega-se a instrução generalizada como forma de transformar as pessoas para melhor. Todavia, a mera instrução acadêmica não é suficiente para proporcionar o crescimento ético. Veja-se, por exemplo, a crueldade dos nazistas no extermínio frio de judeus durante a II Guerra Mundial, quando voltavam para casa serenamente e beijavam suas crianças depois de terem provocado a morte de crianças judias pelos meios mais cruéis… Outro exemplo é dado por ARNALDO JABOR quando afirma que a maior parte dos brasileiros tem a desfaçatez de dizer que não é contra quem vive de falcatruas, porque, se tivesse oportunidade também faria o mesmo… Outros exemplos são o comércio quase que escancarado de veículos roubados e furtados e a utilização de drogas por um número enorme de jovens, como vem acontecendo atualmente… Esses são alguns exemplos dentre muitos.
Por causa desse embotamento do discernimento ético é que a Justiça não consegue prevalecer para estabelecer a verdadeira e duradoura paz social. Estamos sempre apagando incêndios, que ressurgem, fortes, em outros tantos pontos.
Essas realidades têm de ser analisadas para incrementar-se um trabalho conjunto das pessoas, a começar pelos pais e mães quanto à educação moral dos seus filhos acima da mera instrução acadêmica.
O trabalho de moralização tem de ser encetado, conscientemente, na vida familiar, profissional, na vida particular e na vida pública.
Não bastam os discursos retumbantes desacompanhados das ações correspondentes nem a edição de leis que não são cumpridas. A descrença da maioria quanto aos padrões éticos desmorona qualquer tentativa de renovação ética e qualquer lei.
Nesse oceano de confusão, infelizmente, não são muitos a dar o exemplo de idealismo.
Mas, apesar dos pesares, nosso tempo é de mais ética do que antigamente.
Somente os grandes e pequenos Tsunamis geológicos, sociais e morais conseguem fazer-nos repensar nossa pobreza de senso ético e nossos deveres frente às pessoas e ao meio onde vivemos. Só mesmo assim…
* Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).