Filosofia do Direito

Citações Nietzscheanas

Citações Nietzscheanas

 

 

Paulo Queiroz *

 

 

Ceticismo absoluto: necessidade de arte e ilusão.

 

Todo conhecimento surge por meio de separação, delimitação e abreviação; não há conhecimento absoluto de uma totalidade;

 

O imenso consenso dos homens acerca das coisas comprova a uniformidade de seu aparato perceptivo;

 

As abstrações são metonímias, isto é, permutações de causa e efeito. Mas todo conceito é uma metonímia, sendo que, nos conceitos, o conhecer termina por se antecipar. A “verdade” converte-se num poder, assim que a liberamos como abstração;

 

Por “verdadeiro” compreende-se, antes de mais nada, aquilo que usualmente consiste na metáfora habitual – portanto, somente uma ilusão que se tornou familiar por meio do uso freqüente e que já não é mais sentida como ilusão: metáfora esquecida, isto é, uma metáfora da qual se esqueceu que é uma metáfora;

 

Metáfora significa tratar como igual algo que, num dado ponto, foi reconhecido como semelhante;

 

De onde vem, no inteiro universo, o phatos da verdade? Ele não aspira à verdade, mas à crença, à confiança em algo;

 

Não há um impulso ao conhecimento e à verdade, mas tão-somente um impulso à crença na verdade;

 

O que é uma palavra? A reprodução de um estímulo nervoso em sons;

 

O ser sensível precisa da ilusão para viver;

 

Lutar por uma verdade é totalmente distinto de lutar pela verdade;

 

O homem é um animal extremamente patético e toma suas propriedades por algo de suma importância, como se os eixos do universo girassem nele;

 

O conhecer é tão-somente um operar com as metáforas prediletas, e, a ser assim, nada mais que uma imitação do imitar sensível;

 

Em rigor, todo conhecer possui apenas a forma da tautologia e é vazio. Todo conhecimento por nós promovido consiste numa identificação do não idêntico, do semelhante, quer dizer, trata-se de algo essencialmente ilógico.

 

O que é, pois, a verdade? Um exército móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, numa palavra, uma soma de relações humanas que foram realçadas poética e retoricamente, transpostas e adornadas, e que, após uma longa utilização, parecem a um povo consolidadas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões das quais se esqueceu que elas assim o são, metáforas que se tornaram desgastadas e sem força sensível, moedas que perderam seu troquel e agora são levadas em conta apenas como metal, e não como moedas.

 

 

 

Extraídas do livro Sobre a Verdade e Mentira. S.Paulo: Hedra, 2008.

 

 

* Doutor em Direito (PUC/SP), é Professor Universitário (UniCeub), Procurador Regional da República em Brasília, e autor, entre outros, do livro Direito Penal, parte geral. Rio: Lumen juris, 2008, 4ª edição. Website: www.pauloqueiroz.net

 

 

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Como citar e referenciar este artigo:
QUEIROZ, Paulo. Citações Nietzscheanas. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/filosofiadodireito/citacoes-nietzscheanas/ Acesso em: 29 mar. 2024