Filosofia do Direito

Direito com Amor e Direito Sem Amor

 

O opúsculo O Homem e a Natureza (publicado pela Mata Amritanandamayi Mission Trust, Amritapuri, Índia) constitui-se de respostas dadas pela filantropa indiana AMMA às perguntas formuladas por SAM LA BUDDE sobre Ecologia.

 

Uma das afirmações da benemérita que mais me impressionou pela sua lógica foi de que grande parte dos cientistas tem pouco Amor à Natureza e muita vaidade.

 

Realmente, para quem lida com essa massa imensa de estruturas interdependentes, que são os animais, vegetais,minerais e seres humanos, é importante que o Amor seja o móvel de suas pesquisas e do seu trabalho. A responsabilidade desses homens e mulheres é de vida e morte sobre a humanidade.

 

Lembro-me, a propósito, de um dos mais importantes cientistas do século XX e talvez o maior na área da Agricultura, que foi GEORGE WASHINGTON CARVER, o qual afirmava que todas as descobertas que realizava provinham nada mais nada menos que da pura inspiração divina. Tinha ele um Amor tão grande às plantas e à Natureza em geral como somente se viu em FRANCISCO DE ASSIS e outros “irmãos do Sol” e “irmãos da Lua”.

 

Somente tem real Amor à Natureza alguém que procura, através dos atos cotidianos, uma interação a mais profunda e umbilical possível com os seres vivos e os elementos naturais onde habitam.

 

Um exemplo de cientista amante de tudo o que existe foi ALBERT EINSTEIN, um dos melhores seres humanos que habitou este mundo.

 

Diz AMMA que o desentrosamento entre os cientistas frios e a Natureza tem gerado situações desastrosas, sentidas pela humanidade inteira através de alterações graves no clima, por exemplo.

 

Transplantando essa linha de raciocínio para o Direito, vemos muitos cientistas da teoria e da prática da ciência jurídica apartados afetivamente do que há de mais importante na ciência jurídica, que é o ser humano…

 

Há quem lance idéias preciosas de aperfeiçoamento do Direito como se se tratasse de uma ciência abstrata, no entanto sem vivenciar no seu dia-a-dia o mínimo de paciência para ouvir os destinatários do Direito que se constituem nos Josés e Marias dos subúrbios, favelas e zona rural…

 

Discutem, escrevem, digladiam com seus pares sobre o “sexo jurídico dos anjos”, mas amam o povo apenas através de uma tela de computador, temendo o contato com a realidade das misérias sociais, morais e culturais do mundo real…

 

Os excluídos da sociedade chegam à sua presença apenas através de petições, gráficos, relatórios etc. Não querem gente de carne e osso, principalmente se isso não lhes rende grossas remunerações, prestígio e outros dividendos.

 

O Direito realmente está muito voltado para um mundo de fantasias das elites, distante da maioria dos cidadãos…

 

Não é a indumentária diferenciada – togas, becas, ternos etc. – que mais os distancia do “povão”, mas sim seu desinteresse mais ou menos disfarçado por uma cortesia formal.

 

MOHANDAS GANDHI foi o mais importante homem do Direito do século XX justamente porque, ao lado de sua grande inteligência, tratou os clientes da sua advocacia como irmãos de verdade, pessoas a quem amava independente de qualquer fator.

 

Em resumo, precisamos de alma no Direito, como precisamos de alma na Biologia e ciências assemelhadas.

 

Caso contrário, continuaremos tentando apagar os incêndios sociais e morais dos nossos concidadãos com aqueles revolvinhos de água das crianças… e, assim mesmo, à distância, para os assuntos desagradáveis da “gentinha” não nos aborrecer mais do que podemos suportar…

 

 

* Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).

Como citar e referenciar este artigo:
MARQUES, Luiz Guilherme. Direito com Amor e Direito Sem Amor. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/filosofiadodireito/direito-com-amor-e-direito-sem-amor/ Acesso em: 29 mar. 2024