Direito Internacional

Noam Chomsky e o 9-11

Marcel Damato Belli*

 

Noam Chomsky faz uma análise muito interessante dos eventos desencadeados pelo atentado terrorista de onze de Setembro de 2001, onde, abordados vários pontos, passa-se a repensar sobre a posição norte-americana como vítima de toda a situação.

Como citado pelo autor, o território norte-americano não envolvia-se em qualquer tipo de conflito desde 1812. Mesmo nas primeira e segunda guerras mundiais, o território norte-americano permaneceu imaculado, dando ao povo do Tio Sam uma sensação de segurança enorme, o que causou tamanho espanto com o episódio de 2001.

Pelo fato de não terem seu território afetado pela primeira grande guerra, os EUA puderam desfrutar de uma posição muito mais confortável frente à destruição que os países territorialmente afetados pela guerra estavam enfrentando. Por não terem gastos com reconstrução – que foi um dos maiores buracos-negros econômicos para os afetados – puderam aproveitar-se da situação de necessidade dos países europeus, para fornecerem empréstimos e lucrarem com a miséria da futura UE.

Com tal posição de vantagem, os EUA emergiram como a nova potência econômica mundial.

Essa posição de maior potência econômica mundial deu-lhes um papel de preponderância no rumo da globalização. Todas as grandes empresas do techno-knowledge são norte-americanas. O Vale do Silício é o grande tesouro que impulsiona a posição dos EUA como líderes dos rumos da globalização.

Embora essa posição seja de fundamental importância para todo o rumo desse fluxo, não se pode dizer que haja um controle norte-americano.

O poder que os EUA adquiriram com essa nova posição de supremacia econômica trouxe-os à posição de supremacia bélica, onde, juntamente com seu inquestionável poder de influência por ser a cadeira principal do FMI e ter um assento no conselho de segurança da ONU, podem agora exercer seu poder em qualquer local do globo e como quiserem.

O dualismo entre guerra, palavra agora muito temida por todos no mundo, e “Intervenção Humanitária”, definição que tornou-se jargão pela política-externa Bush Filho, cria uma confusão para a mesma coisa: a intervenção armada não-autorizada pelo país dono do território a ser invadido.

A fragilidade dos argumentos da intervenção humanitária dos EUA no Iraque, para “livrar o povo de um ditador tirano, o qual assassinou os curdos, oprimia o próprio povo, as mulheres”, etc, etc, etc, acabou mostrando ao mundo que não existe outra intenção na política externa norte-americana do que a sede por guerra, o maior combustível da economia deles.

Quando se passa por cima de toda uma organização internacional putada na intenção de impedir novas guerras, por cima de governos contra a violência e de protestos pelo mundo todo para inserir tropas militares em um país do oriente médio está a cometer nada muito longe do que podemos denominar de crime contra a humanidade.

Na verdade, qualquer pessoa com o mínimo de discernimento e conhecimento de um pouco de geopolítica do mundo moderno haveria de concordar que deveríamos estar, neste exato momento, em uma corte judicial julgando George W. Bush e todos que coordenaram a invasão e a manutenção das tropas americanas no Iraque por conspiração para cometer assassinato e por conspiração contra a vida.

Como será que o tribunal de Nuremberg julgaria tal presidente?

Na entitulada “guerra contra o terror”, uma “cruzada pela paz” liderada pelo proesidente norte-americano George W. Bush, que, com as suas próprias palavras “nós não cansaremos, não hesitaremos e não falharemos”, passou a impor pelo mundo a cultura do Tio Sam no maior movimento fundamentalista já visto na história. O American Way of Life, McDonald’s, Burger King, jeans e muitos outros elementos da cultura norte-americana agora eram impostas através do mundo, causando episódios como, por exemplo, a revolução fundamentalista de Khomeini.

Na verdade a “guerra contra o terror” nunca vai acabar pois, se luta-se contra o terrorismo, devemos acabar com ele, não usar dele para diminuir a quantidade de pessoas que se utilizam dele.

O governo estadunidense, nas suas empreitadas ao redor do mundo é o maior terrorista da história moderna. Suas invasões através do mundo, crimes contra a vida, contra a humanidade, direitos humanos, direitos ambientais, direitos da criança e do adolescente, do cidadão, contra o princípio da isonomia, dentre muitas outras agressões, são os resultados de um povo cego na busca pelo pódium de dominadores globais.

Na verdade, não podemos esquecer que o maior crime que os EUA cometeram, recentemente, foi o de invadir o Iraque, mas, que, acima de tudo, todo esse movimento bélico foi impulsionado SIMPLESMENTE por dinheiro.

A acepção da economia Iraquiana pelo Euro iria desestabilizar o fundamento de a moeda internacional ser o petróleo. Iraque sendo um dos remanescentes da OPEP, o único “bloco” econômico que conseguiu fazer frente à economia norte-americana das Sete-Irmãs, agora esfacelada, tem em seus últimos sobrevieventes uma faceta totalmente anti-americanista que, se apoiarem um dos maiores rivais econômicos doa EUA, a União Européia, haveria de se causar um total desbalanceamento no eixo de poder econômico mundial.

O governo norte-americano não poderia deixar isto acontecer.

 

* Acadêmico de Direito da UFSC

 

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Como citar e referenciar este artigo:
BELLI, Marcel. Noam Chomsky e o 9-11. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direito-internacional/noamc/ Acesso em: 29 mar. 2024