Direito Ambiental

A limeira e a arte de Deus

“A Natureza dá a cada época e estação algumas belezas peculiares; e da manhã até a noite, como do berço ao túmulo, nada mais é que uma sucessão de
mudanças tão gentis e suaves que quase não conseguimos perceber os seus progressos.” Charles Dickens

São José do Cedro-SC. Meados de agosto de 2011. Acho que, com essa história de mudança climática, as plantas não sabem mais em que estação do ano
estamos. E se comportam das mais variadas formas.

Nesse momento, à minha frente, vejo árvores sem folhas, com muitas folhas, brotando as primeiras folhinhas, com folha e fruto e – novidade pra mim –
com folha, fruto e flor… e o vento dessa tarde tranqüila me traz o perfume inebriante das flores.

Ah! também enxergo a verdejante e majestosa Araucária. Sozinha nos campos do oeste catarinense. Diferenciada das demais. Tal qual abelha rainha no meio
das operárias.

Fotografei muitas árvores nesses dias ensolarados de inverno. Seus ramos, frutos, flores… E, de todas, a limeira – carregada de flor e fruto – é
minha predileta. Suas limas ficam deliciosas após o almoço. Aquecem suavemente com o sol do meio-dia, deixando seu suco mais adocicado. Enquanto
saboreio o fruto, debaixo da árvore, procuro o melhor ângulo para fotografar suas flores. E lamento que a máquina fotográfica não capte também o
perfume dessas…

Dia a dia, sou testemunha ocular da sucessão de mudanças que ela experimenta. Hoje, ao vê-la sob o sol, pensei: parece nevou na limeira. Suas flores
brancas desabrocharam em maior quantidade e parecem floquinhos de neve adormecidos no verde.

Na minha infância, a limeira da nossa casa era a ‘Macieira do Paraíso’. Não podíamos comer seus frutos. Eram todos da minha avó. “Pra gastura do
estômago”, ela dizia.

Mas, entre tantas bergamoteiras, laranjeiras, pessegueiros, parreirais, … isso não chegava a ser um problema. Fruta é que não faltava. Nem faltava
árvore pra brincarmos.

Terapêuticas ou não, acho que as limas ajudaram na longevidade da vovó, que morreu com 99 anos.

E a beleza peculiar dessa limeira verde – enfeitada de flor e fruto – é uma das minhas terapias cotidianas.

Acho que Dante Alighieri admirava algo assim quando escreveu que “a natureza é a arte de Deus”.

Ana Echevenguá – advogada ambientalista – OAB/SC 17.413

ana@ecoeacao.com.br

Instituto Eco&Ação – www.ecoeacao.com.br

Como citar e referenciar este artigo:
ECHEVENGUÁ, Ana. A limeira e a arte de Deus. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direito-ambiental-artigos/a-limeira-e-a-arte-de-deus/ Acesso em: 19 abr. 2024